Num comunicado, hoje divulgado, o sindicato insta ainda os órgãos reguladores, nomeadamente a Entidade Reguladora para a Comunicação Social e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, “a agirem” perante os casos de cobertura noticiosa que não cumpram as regras deontológicas.

Em momento de consternação nacional, devido aos incêndios que neste fim de semana fizeram, pelo menos, 62 mortos, levando o Governo a decretar três dias de luto nacional, até terça-feira, o sindicato assinala também “o trabalho competente e sério de muitos” dos repórteres que fazem a cobertura dos acontecimentos e realça a importância de uma cobertura noticiosa “sóbria e rigorosa”.

No comunicado, o Sindicato dos Jornalistas aproveita para recordar alguns pontos do Código Deontológico dos Jornalistas, quanto à necessidade de "atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas" nos acontecimentos relatados pelos jornalistas.

A reportagem da polémica

Judite Sousa é uma das jornalistas da TVI a acompanhar o incêndio em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria. Durante uma reportagem emitida na noite deste domingo, 18 de junho, a pivot do canal de Queluz de Baixo apareceu nas imagens junto de um corpo queimado.

"Um corpo aqui ao meu lado, de uma senhora que ainda não foi retirado apesar dos bombeiros se encontrarem muito perto deste local", explicou a jornalista.

A reportagem não passou despercebida, gerando uma onda de comentários negativos nas redes sociais.  "Em vez de pedir a demissão da ministra da Administração Interna, a Judite Sousa devia era demitir-se", escreveu um espectador no Twitter.

O internautas também têm deixado várias críticas no perfil de Judite Sousa no Facebook. "A estação televisiva também deveria envergonhar-se", frisou uma espectadora.

No site oficial, a TVI24 partilhou a reportagem, tendo cortado o momento em que a jornalista é filmada junto a um cadáver.

No grupo que junta vários jornalistas no Facebook, os comentários negativos a Judite Sousa também se multiplicam. Além da reportagem, a pergunta da jornalista à Ministra da Administração Interna também tem sido criticada. "Judite Sousa, paga a peso de ouro - mais que qualquer membro do governo pelo seu trabalho - e autora, ao lado do cadáver carbonizado de uma vítima da catástrofe, de uma das mais inqualificáveis peças jornalísticas a que me foi dado assistir, acaba de perguntar à Ministra da Administração Interna, incansável no terreno há quase 36 horas, se, caso o número de vítimas aumente, esta se demitirá. Até onde poderá ir a convicção de impunidade e a sensação de poder fazer julgamentos públicos desta gente perigosamente armada de microfone?", escreveu Rui Bebiano, Investigador no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

O fogo, que deflagrou na tarde de sábado, em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, alastrou depois aos concelhos vizinhos de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, e entrou também no distrito de Castelo Branco, pelo concelho da Sertã.

O último balanço dá conta de 62 mortos civis e 62 feridos, dois deles em estado grave. Entre os operacionais, registam-se dez feridos, quatro em estado grave. Há ainda dezenas de deslocados, estando por calcular o número de casas e viaturas destruídas.