"Antigamente, a televisão era paga pelo Estado com os nossos impostos, hoje é paga pelos portugueses através de impostos e de taxas. E eu pergunto, esse modelo será um modelo de futuro?", disse Marcelo Rebelo de Sousa, à margem do 23.º Congresso das Comunicações, organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), que decorre até quinta-feira sob o tema ‘Business Trends'.

O comentador considera necessário pensar-se sobre este modelo, destacando que o esquema existente na Televisão está "a mudar muito rapidamente" e daqui a quatro, cinco anos "vai ser muito diferente", acrescentando "que isto aplica-se também à SIC e a TVI".

"Quando se fala na multiplicação de canais, mas também em investimentos muito consideráveis no canal generalista da RTP, que está com audiências que são uma sombra daquilo que eram - e no futuro cada vez mais, porque serão todos os canais generalistas a perder - então é preciso pensar um bocadinho a prazo, como vai ser e se vai ser viável", afirmou.

Além disso, sublinhou que "a televisão por cabo está a ganhar importância crescente tal como a internet" e que nos próximos anos "a audiência será sobretudo em canais não generalistas".

"Isso obriga a uma mudança nos canais generalistas. A crise económico-financeira tirou publicidade, o que também obriga a que os canais generalistas mudem", reforçou, acrescentando que quando se está a conceber uma reforma da RTP, é preciso pensar a RTP para um padrão completamente diferente.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que sempre foi "defensor nos últimos anos de que seria um erro fazer a extinção, como o Governo prometeu no início, de toda a televisão pública, e afirmou que "este projeto [o apresentado pelo ministro Poiares Maduro] "é o oposto do projeto [do ex-ministro] Miguel Relvas": "É multiplicar a presença televisiva pública paga pelos cidadãos como era paga anteriormente".

"Aquilo que existe hoje na televisão está a fechar um ciclo histórico, que começou com canais privados generalistas e agora é outro mundo, com públicos mais segmentados e especializados, com os jovens a afastarem-se da televisão e a irem para a internet. A televisão generalista será mais para as crianças ou os mais velhos e mesmo aí temos que ver como", frisou.

Quanto à contribuição extraordinária sobre as telecomunicações, que está a ser ponderada pelos deputados do PSD e do CDS/PP, numa proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2014, Marcelo Rebelo de Sousa disse apenas que, “ninguém sabe como é a taxa, se é temporária, duradoura, como é a incidência".

A sobretaxa sobre as telecomunicações visa obter receitas adicionais que permitam atenuar os cortes salariais na função pública e reduzir a sobretaxa do IRS.

@Lusa