O anúncio da France Télévisions surge depois de o Presidente francês, Emmanuel Macron, ter sugerido que a sequência em causa poderia ter sido modificada durante a edição em vídeo, numa entrevista concedida na quarta-feira ao canal público France 5, em que defendeu o ator.

O argumento fora apresentado antes pela família de Depardieu.

O ator enfrenta três queixas de violação, duas de atrizes francesas, uma delas por denúncia da atriz Charlotte Arnould, e uma última apresentada esta semana por uma jornalista espanhola.

“Não há dúvida nem ambiguidade sobre o facto de que a jovem da imagem é alvo dos comentários de Gérard Depardieu”, assegurou o grupo de televisão pública, em comunicado de imprensa.

As imagens foram autenticadas por um oficial de justiça que fez o visionamento dos 'rushes' (imagens brutas, sem edição), acrescenta a France Télévisions.

Captadas pelo escritor Yann Moix durante a viagem do ator à Coreia do Norte em 2018, as imagens e transmitidas no documentário "Depardieu: A Queda de um Ogre", no programa "Complément d'investigation", exibido no dia 7 de dezembro na France 2.

As imagens do programa mostravam o ator a fazer comentários de caráter sexual a mulheres, sobre mulheres e sobre uma criança.

A exibição do programa na France 2 levou várias personalidades do teatro e do cinema a afirmar que não voltariam a trabalhar com Depardieu e esteve na base das declarações da ministra francesa da Cultura, Rima Abdul Malak, sobre a possibilidade de ser retirada a Legião de Honra ao ator.

Depardieu, através dos seus advogados, colocou a condecoração à disposição do Governo e declarou-se vítima de “um linchamento mediático”.

Na quarta-feira à noite, Macron disse à France 5 ser um “grande admirador” de Depardieu e afastou a possibilidade de retirar a Legião de Honra sem haver uma condenação na justiça, contrariando a ministra da Cultura.

As afirmações de Macron foram criticadas na quinta-feira pelo seu antecessor, François Hollande, numa entrevista à France Inter. Hollande lamentou que Macron não tenha falado sobre “as mulheres agredidas e humilhadas”.

O partido Les Verts, através da porta-voz, Sophie Bussière, a presidente da Fondation des Femmes, Anne-Cécile Mailfert, a Fundação Femme et Libre, assim como a antiga secretária de Estado para Assistência às Vítimas Juliette Méadel, que fez parte do gabinete de Hollande, criticaram igualmente as declarações de Macron.

Após a exibição do documentário, o Museu Grevin, galeria de figuras de cera de Paris, retirou a imagem de Depardieu, a província canadiana do Quebec anulou a distinção que lhe tinha dado, e a cidade belga de Nochin, onde o ator viveu, também anulou o título de cidadão honorário que lhe concedera.

As autoridades francesas iniciaram entretanto a investigação das circunstâncias em que ocorreu a morte da atriz Emmanuelle Debever, no passado dia 6.

A atriz denunciara Depardieu de “comportamento impróprio”, em 2019, que teria ocorrido durante as filmagens do "Caso Danton", e é citada no documentário.

Debever atirou-se ao rio Sena a 29 de novembro, depois de conhecida a divulgação do exibição do documentário pela France 2, vindo a morrer uma semana mais tarde.