Os remakes sempre fizeram parte do cânone de Hollywood, onde nunca se deixou passar uma oportunidade de rentabilizar os projetos de sucesso, uma e outra vez.

Tirando casos esporádicos, a TV nunca foi a mais óbvia plataforma para a ‘arte do remake’, mas isso mudou nos últimos anos. Seja por uma clara exaustão criativa por parte de produtores e argumentistas, seja principalmente pela feroz competição entre os canais tradicionais de exibição e os cada vez mais influentes canais de distribuição por cabo e pela internet, que disputam taco a taco as cada vez mais limitadas receitas de publicidade, alguns responsáveis de canal começaram a olhar para fora dos EUA em busca de fórmulas de sucesso que tenham os elementos adequados a uma adaptação à realidade americana.

Tivemos assim, recentemente, as versões americanas de séries de sucesso como The Killing, originalmente uma produção dinamarquesa; House of Cards, um clássico da TV britânica dos anos 90; e outros êxitos como The Office, Prime Suspect, Ugly Betty, Life on Mars, Wilfred, etc.
Encontra-se agora em exibição entre nós The Bridge, um drama policial passado na fronteira entre os EUA e o México, onde detetives de ambos os países investigam o aparecimento do cadáver de uma mulher que foi deixada exatamente no meio de uma ponte que liga os dois países. Partilhando a investigação, os dois detetives vão defrontar-se com uma série de problemas que prejudicam o seu trabalho, como a ineficácia e corrupção das autoridades mexicanas e a violência brutal dos cartéis de droga.

O crime continua

The Bridge é na verdade um remake de Broen/Bron, a primeira coprodução televisiva entre a Dinamarca e a Suécia, que pôe em ação uma dupla de detetives, Saga Norén, da polícia sueca de Malmö, e Martin Rohde, da polícia de Copenhaga. O caso que os junta é o aparecimento, exatamente na linha de fronteira, na ponte de Öresund – uma das mais longas da Europa, do cadáver de uma política.

Saga é imperiosa e muito focada no seu trabalho – talvez demasiado focada, o que a leva a ter graves problemas nas suas relações pessoais e profissionais. Martin, por seu lado, é muito mais descontraído, mas igualmente centrado no seu trabalho, porém a relação com Saga não vai ser fácil, pois ela é, digamos, especial.

No decurso da investigação a dupla vai descobrindo pontos comuns, o que vai ser decisivo para chegar a bom termo de um caso com ramificações político-económico-sociais. Porém, o seu adversário é um sofisticado e implacável assassino em série que recorre aos meios mais radicais para exercer vingança sobre uma lista seleta de vítimas.

A série foi de tal modo bem sucedida que terá no próximo mês de setembro a estreia, na Escandinávia, de uma segunda série de episódios. Além de ter inspirado o remake americano, protagonizado por Diane Kruger e Démian Bichir, este projeto vai ter também uma versão franco-britânica, desta vez passada no túnel sob o canal da Mancha.

Uma investigação topo de gama

A série original conta com os habituais temas da ficção nórdica, a frieza nas relações humanas, a violência extrema escondida sobre uma capa de respeitabilidade, o abandono juvenil, uma clara insensibilidade, social, etc. A versão original de The Bridge é, com The Killing, uma das melhores produções televisivas da atualidade cativando o espectador do primeiro ao último momento. Além da dupla de protagonistas, onde Sofia Helin tem um desempenho notável, há ainda a destacar a excelência do argumento, o esmerado trabalho de produção visual e uma inquietante banda sonora.

Quanto à versão americana, da qual ainda só vimos dois episódios, o piloto é bastante fiel ao original, porém os produtores deixam pistas suficientes para crermos que apesar de seguir a matriz original a narrativa vai enveredar por aspetos que refletem a realidade politico-social da vida de fronteira entre El Paso, no Texas e, Juárez, no estado mexicano de Chihuahua.