Mia Wasikowska foi coroada pela revista Forbes como a atriz mais rentável de Hollywood em termos de receitas de bilheteira em 2010 graças à versão de Tim Burton de "Alice no País das Maravilhas", mas a artista australiana enfrenta dificuldades - como muitas outras mulheres - para trabalhar do outro lado da câmara.

Agora, com 31 anos e estando a viver novamente na sua nativa Australia, "está a ser realmente difícil" encontrar financiamento para os seus projetos como realizadora.

"Adoraria fazer mais trabalho de cineasta, mas é difícil e parece-me que, sendo mulher, é uma experiência diferente", disse a atriz à France-Presse (AFP).

"Atuar é diferente e, claro, com o #MeToo [...] é outra coisa", acrescentou.

"Mas pareceu-me interessante tentar fazer o meu filme, que mostra ter sido feito de uma perspetiva muito feminina. A resposta é diferente da que vi com meus amigos homens", destacou.

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Os desafios para as realizadores de cinema são um dos temas principais do aclamado drama "A Ilha de Bergman", realizado por Mia Hansen-Love e com a participação de Mia Wasikowska, lançado nos cinemas portugueses esta semana. Este filme independente retrata a história de um casal de cineastas que vai até à que foi a antiga casa do autor sueco Ingmar Bergman.

Enquanto um despreocupado Tony (Tim Roth) se encontra com os seus fãs, a sua esposa Chris (Vicky Krieps) luta para escrever um novo filme na remota ilha Faro.

Sobre os seus esforços, paira o espectro de Bergman, que criou alguns dos trabalhos mais venerados do cinema, como "Persona" e "O Sétimo Selo".

"É uma mulher artista tentando encontrar a sua voz e sentindo o peso da sombra de grandes artistas à sua volta [...]. Posso identificar-me com esse conflito, frustração ou dúvidas sobre mim mesma", disse a atriz sobre o filme.

Para ela, o caminho das mulheres para dirigir é "sistematicamente" diferente, em parte porque há "algo naturalmente experimental no sentido feminino da criatividade".

"Realmente precisamos trazer muito mais compreensão e gentileza ao nosso próprio processo criativo", disse.

"Porque pode ser diferente da forma como os homens são criados e a forma em que o mundo nos responde pode ser diferente se for homem ou mulher".

"O peso" da criação

Hollywood começou a emitir sinais de que está a olhar para lá de um grupo reduzido de realizadores, maioritariamente brancos e masculinos.

Em abril, Chloé Zhao se tornou a segunda mulher - e a primeira de origem asiática - a ganhar o Óscar de Melhor Realização com "Nomadland - Sobreviver na América".

Mas "A ilha de Bergman" levanta questões sobre a aura que prevalece sobre os cineastas canónicos, como Bergman, que geralmente ignoram as vantagens de que desfrutam.

Por exemplo, o filme retrata como o autor teve nove filhos com seis mulheres diferentes, mas não teve quase nenhum papel na sua criação.

"Ainda não sou mãe, mas quero ser. Não quero que isso seja limitador, só quero ser uma boa mãe", disse Wasikowska.

Mas os homens que seguem carreiras cinematográficas "provavelmente não sentiram tanto o peso da paternidade como as mulheres", afirmou.

"A Ilha de Bergman" também abre o debate sobre "se é possível separar o artista da sua obra", salienta.

"Porque quando você se olha para os factos, parece que ele não foi particularmente, não sei, um tipo simpático? É uma forma simples de dizer", sorriu.

"E nesse ponto temos as conversas sobre Woody Allen", acrescentou, referindo-se ao realizador de "Annie Hall", que ainda é aclamado por muitos, apesar das acusações de abuso sexual.

Trabalho vs vida pessoal

Em "A Ilha de Bergman", Wasikowska interpreta Amy, a estrela do filme criado por Chris.

Amy tem um caso com um amante. A realizadora Mia Hansen-Love explorou uma trama similar, semi-autobiográfica, num dos seus primeiros filmes.

"Estou tão orgulhosa dela por explorar abertamente estas coisas que estão tão presentes na sua própria vida e com as quais ela mesma luta", disse a atriz.

Ao entrar nos sucessos de bilheteira de Hollywood, Mia Wasikowska preferiu manter a sua vida pessoal separada do seu trabalho.

Ela e o seu colega Jesse Eisenberg ("A Rede Social") nunca responderam a perguntas sobre a sua relação, que durou de 2013 a 2015.

"Provavelmente agora reconheço um pouco mais, à medida que cresço, o tanto que o trabalho que se faz, as pessoas com quem se trabalha, os filmes e os temas afetam a sua vida", concluiu.

TRAILER  "A ILHA DE BERGMAN".

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