Com 700 milhões de dólares das bilheteiras de todo o Mundo, face a um orçamento de “míseros” 35 milhões (mas o dobro em marketing), “IT” tornou-se num dos grandes sucessos de 2017.

Reimaginação do "bestseller "de Stephen King, já adaptado sob um formato de uma minissérie em 1990, a história do "Clube dos Falhados", crianças determinadas em enfrentar uma maligna entidade que lhes surge sob a forma de palhaço, estava longe de terminar. Até porque o livro continuava a jornada dos “pequenotes” como adultos formados, que regressam à terra natal para um ajuste de contas.

Tendo em vista um previsível êxito de bilheteira (e nos dias de hoje, com a domínio da Disney no mercado, qualquer sucesso vindo de outros estúdios é um fenómeno), o realizador Andy Muschietti está de volta à “palhaçada” com a promessa de uma clara liberdade e isso nota-se logo na duração longa: 170 minutos é  demasiado para uma obra deste género.

Mas é nas decisões narrativas que evidenciamos a liberdade deste artesão… e, ao mesmo tempo, a cedência às automatizações da indústria.

Primeiro, e convém afirmar, que “IT: Capítulo 2” é um filme que tenta fugir a todo o custo da marginalização do cinema de terror, assumindo-se como uma espécie de "blockbuster" alternativo. Ou seja, há em todo ele uma listagem de valores de produção invejáveis. Só que mesmo tendo a melhor equipa de talentos a trabalhar para dar vida à desforra do palhaço Pennywise, o uso dessas forças é guiada por uma visão megalómana e, consequentemente, pouco dada à fluidez cinematográfica.

Talvez seja por isso que estas quase três horas de filme nos transmitem uma sensação de cansaço, idêntico ao cada vez mais em voga "binge watch" de uma série Netflix, daquelas que se tentam confundir com "filmes de oito horas divididos em N partes", parafraseando o senso comum nesta matéria. A culpa nem será inteiramente de “IT”, mas de como a indústria tenta competir com este espectador "transformado" pelos serviços de streaming.

Se a produção [no cinema] tenta seguir os passos dos feitos televisivos (atualmente, o maior dos franchises, o Universo Cinematográfico Marvel, possui tendências mais televisivas do que cinematográficas), os filmes tendem em manter-se longos e mais exaustivos em termos de conteúdo para justificar o preço do bilhete. “IT: Capítulo 2” segue essa regra, preferindo colocar as suas personagens a oscilar entre "flashbacks" sem causa e "jumps scares" sem esforço, deambulando por uma narrativa “empapada” que vai adiando o tão "esperado" duelo final, também ele, prolongado para “inglês ver”.

Tudo decorre com o menor esforço de inovação, confundindo complexidade com saturação e ainda (imperdoável) abuso dos efeitos especiais, que vem substituir não só a criação de “novas criaturas” (tão artificiais que até dói) como o próprio fundamento do sector de caracterização e maquilhagem. Por outras palavras, o artificialismo tecnológico é uma analogia ao quanto farsola e este segundo capítulo deixa o espectador anestesiado para o climax final (acabamos por citar a “running gag” do personagem-escritor: “ninguém gosta do final”).

No fim de contas, o que retemos de toda esta exaustiva experiência é o prólogo que apela a fazer justiça a uma das suas personagens ou o palhaço Bill Skarsgård quando surge genuinamente em carne-e-osso (apesar de preferirmos a encarnação pitoresca de Tim Curry na versão de 90).

Fica o conselho: se o próprio escritor, Stephen King, elogiar uma das adaptações dos seus livros … fujam! Não se esqueçam que são aqueles que ele repudia, como “The Shining” ou “Carrie”, que permanecem imaculados pela passagem do tempo.

"IT: Capítulo 2": nos cinemas a 5 de setembro.

Crítica: Hugo Gomes

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