"A Batalha da Escuridão", lançado recentemente pela Editorial Divergência, é a edição integral de "The Dark Sea of Chronicles", obra que já circula no mercado internacional desde 2017. O enredo passa-se numa galáxia distante onde dois planetas estão em guerra e o protagonista é um militar pertencente à Marinha de um deles.

O SAPO Mag entrevistou o seu autor, Bruno Martins Soares, que falou da criação do seu universo, o seu gosto por "space operas" e, justamente, a necessidade de o escritor português conceber o mercado olhando para fora. “Somos uma aldeia global”, arremata.

SAPO Mag - Para criar os cenários onde se desenrola a ação de "The Dark Sea War Chronicles" (agora "A Batalha da Escuridão"),teve alguma fonte de inspiração em particular? Como concebeu esse universo?

Bruno Martins Soares - Tive várias fontes de inspiração. A principal foi a Batalha do Atlântico da Segunda Guerra Mundial. Tenho algum fascínio pela Segunda Grande Guerra e agrada-me a História dos ‘comboios’ que atravessavam o Atlântico e de como os submarinos que os atacavam por pouco não ganhavam a guerra para os Alemães. Resolvi construir uma história sobre o assunto, mas a passar-se noutro ponto da galáxia, ou algures no espaço, onde uma guerra estala entre nações que são planetas inteiros – um planeta representará os EUA, outro a Inglaterra, outro a Alemanha, etc. Outra fonte de inspiração são os romances de marinha sobre as guerras Napoleónicas, de autores como Alexander Kent ou Patrick O’Brien – são todo um género de literatura. Agrada-me muito aquele tipo de ambiente. E depois, claro, os universos de “Battlestar Galactica” ou “Battleship Yamato”, etc.

Bruno Martins Soares

A julgar pelo seu protagonista, pode-se afirmar que a sua preferência é por situar a ação no mundo dos militares, da ação bélica?

No geral interessa-me a literatura militarista, sim, e em grande parte dos meus romances há um pendor militarista. Fascina-me o modo como as pessoas enfrentam o perigo, as relações e as decisões difíceis num ambiente tão agreste como a guerra. Da mesma forma, fascina-me a disciplina, o trabalho em equipa... A guerra é algo de terrível, mas representa a primitiva e primal luta interna do ser humano: a luta entre a Vida e a Morte, e embora os homens sejam capazes do pior em tempos de guerra, também sabemos que é onde mostram o seu melhor. Tudo isto é interessante para mim e leva-me a querer escrever sobre este drama.

A sua abordagem da ficção científica pertence ao universo das fantasias de "space operas". Concorda? É a sua forma de ficção científica favorita? E, já agora, quais os seus autores favoritos?

Sim, concordo. São aventuras que se passam noutros pontos do universo, com regras diferentes, focadas nos confrontos entre personagens e não na tecnologia ou na dança entre o Homem e a tecnologia. E gosto muito de ‘space operas’, sim, nunca me ocorreu pensar se é o meu género de ficção científica favorito ou não, mas gosto muito. Sempre que falo de ficção científica ocorre-me o nome de Frank Herbert, claro, ou Phillip K. Dick. Mas os meus autores favoritos não são necessariamente ficção científica e ocorrem-me nomes tão díspares como Hemingway, Walt Whitman ou George R.R. Martin.

"A Batalha da Escuridão" chega em português depois do seu lançamento em inglês, o que é sempre curioso em se tratando de um autor de cá. Acha que publicar internacionalmente é a melhor saída para os escritores de ficção-científica portuguesa?

Sim, acho. O público português é interessante, interessado e carinhoso – mas é muito pequeno. Acho que nos dias de hoje é imperativo para um escritor, especialmente um escritor fora dos grandes mercados como os EUA ou a China, abordar o mercado global de uma forma ou de outra. Hoje é possível vendermos facilmente para todo o mundo e acho importante assumirmos esse desafio – já vendi para os EUA, a Índia, o Japão, a Espanha, a Alemanha, a Inglaterra, a Austrália, enfim, um pouco para todo o lado. Acho uma atitude pequena, mesquinha e provinciana essa ideia de que temos de vencer e morrer em língua portuguesa. Há que olhar para fora, olhar para cima e olhar em volta. Hoje somos uma aldeia global. Foram os portugueses que inauguraram esta ideia e temos de ter orgulho em prossegui-la.