O realizador Alex Gibney diz estar surpreendido por Tom Cruise continuar a escapar a qualquer tipo de penalização pela sua ligação à Cientologia, apesar de ser o membro mais famoso da Igreja, oito anos depois das acusações contra ele no seu documentário "Going Clear: Scientology and the Prison of Belief" (2015).

Alex Gibney é um dos mais aclamados e ativos realizadores de documentários da atualidade para cinema e televisão, principalmente focados nos mundos do poder e corrupção: além de ter ganhado o Óscar por "Taxi to the Dark Side"(2007), dirigiu títulos como "Enron: The Smartest Guys in the Room" (2005), "Freakonomics: O Estranho Mundo da Economia" (2010), "A Mentira de Armstrong" (2013, sobre o ciclista Lance Armstrong), "The Inventor" (2019, sobre Elizabeth Holmes, a vigarista do caso Theranos) e "Totally Under Control" (2020, sobre a ação da administração presidencial de Donald Trump durante os primeiros meses da pandemia).

Numa entrevista a propósito de "Boom! Boom! The World vs. Boris Becker", um documentário de dois episódios para a Apple TV+ sobre a ascensão e queda do ídolo do ténis, o realizador foi confrontado com o facto de Tom Cruise "continuar a ser o rei de Hollywood" e não ter respondido a qualquer questão sobre o seu envolvimento com a Cientologia, mesmo depois das alegações presentes em "Going Clear", nomeadamente a de ter mandado colocar sob escuta o telefone da então esposa Nicole Kidman e recorrido a trabalhadores mal pagos fornecidos pela Igreja para benefício pessoal.

"Concordo. Estou um pouco surpreendido. Acho que ele deu um passo atrás, portanto não é o tipo de embaixador da Cientologia que costumava ser - não como na altura em que estava a fazer 'Guerra dos Mundos' [2005, Steven Spielberg] e tinha no set uma tenda da Cientologia", recordou à revista Rolling Stone.

"Ser uma estrela é muito importante para ele. Concordo. Não houve qualquer ajuste de contas com ele. Isso surpreendeu-me. Existem histórias sobre ele que, se alguém conseguisse fazer que as pessoas se chegassem à frente para falar publicamente, seriam chocantes. Mas essas pessoas têm de estar disponíveis para fazê-lo. E até agora, não têm estado", acrescentou.

Durante a altura do lançamento de "Going Clear", Alex Gibney chegou a descrever o silêncio de Tom Cruise sobre as acusações feitas contra ele e os alegados abusos da Cientologia ao longo dos anos como "irresponsável".

Num artigo especial para a The Hollywood Reporter em agosto de 2015, o realizador escreveu sobre a sua desilusão com o comediante Jon Stewart por não ter confrontado o ator com os "abusos de direitos humanos na Igreja da Cientologia" num dos seus últimos episódios do "The Daily Show", estendo as críticas à omissão de outras figuras da comunicação social.

"O problema é muito maior do que qualquer apresentador. É a maquinaria da celebridade. É preciso muito trabalho e muitos recursos para fabricar celebridades. E quando conseguem lucros, os investidores não querem ver os seus produtos manchados. Ao proteger as celebridades, as engrenagens do poder têm dentes", escreveu na revista.

Reagindo em comunicado, a Cientologia disse na época que "as acusações [...] são totalmente falsas" e nunca foi confrontada pela equipa do documentário ou a HBO com qualquer alegação para ter a oportunidade de responder.