Numa entrevista a uma rádio norte-americana, Samuel L. Jackson criticou a escolha de atores negros de outros países em vez de americanos para filmes com histórias que abordam temas com mais impacto nos EUA.
A opinião não agradou a John Boyega, que interpreta Finn na nova saga "Star Wars".
"Negros britânicos versus afro-americanos. Um conflito estúpido para o qual não temos tempo", foi a reação no Twitter, ao mesmo tempo que retuitou o comentário de outro um utilizador que pedia a Jackson para "se emancipar da escravatura mental".
Os comentários de Samuel L Jackson surgiram a propósito de "Get Out", uma comédia de terror que está a ter grande sucesso nos EUA e onde o britânico Daniel Kaluuya interpreta um afro-americano que vai conhecer os pais da sua namorada caucasiana pela primeira vez.
"Acho que é ótimo que esse filme esteja a render e que as pessoas adorem, mas... conheço o jovem camarada que está no filme e ele é britânico. Fico a pensar o que teria sido esse filme com um camarada americano que realmente sente essa situação [das relações inter-raciais]".
"O Daniel cresceu num país onde existe relacionamento inter-racial há 100 anos. O que teria feito um camarada da América com esse papel? Algumas coisas são universais, mas não tudo", acrescentou.
Em anos recentes, também Martin Luther King e Solomon Northup foram interpretados respetivamente pelos britânicos David Oyelowo e Chiwetel Ejiofor em "Selma: A Marcha da Liberdade" (2014) e "12 Anos Escravo" (2013).
O segundo caso também foi destacado por Samuel L. Jackson: "Existem alguns camaradas na América que podiam ter entrado nesse filme que teriam tido uma ideia diferente de que King pensa".
Questionado sobre a razão para essa preferência, a estrela respondeu: "Desde logo porque são mais baratos do que nós. Não custam tanto. E eles [os diretores de casting e realizadores] acham que têm mais experiência porque têm formação clássica".
Jordan Peele, realizador de "Get Out", revelou que estava hesitante em escolher um ator que não era americano, mas que Daniel Kaluuya o convenceu que os homens negros na Grã-Bretanha enfrentam os mesmos preconceitos.
Não é a primeira vez que Samuel L. Jackson faz comentários sobre a questão racial nos filmes. Em dezembro, causou controvérsia uma observação sobre "Manchester by the Sea".
"O que acontece nesta época do ano em Hollywood é muito interessante. Os filmes que eles escolhem dizer que são incríveis e muito bons, tipo "Manchester by the Sea" — 'Oh, meu deus, tens de vê-lo, é um filme espantoso!', suponho que é — para alguém. Não é um filme inclusivo, percebem o que quero dizer? E tenho a certeza que "Moonlight" vai ser encarado da mesma forma. Vão dizer "Bem, é um filme com negros. Onde estão os brancos?" Vamos dizer a mesma coisa sobre "Manchester by the Sea".
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