Corte de Cabelo

Corte de Cabelo

Corte de Cabelo

Corte de Cabelo

Um filme de Joaquim Sapinho

Rita nunca tinha pensado muito em casar – uma rapariga com 19 anos tem a vida pela frente ainda para mais se é bonita, e tem uns cabelos negros, negros, e longos como a noite... E no entanto aqui está ela no Centro Comercial das Amoreiras, a pensar em Paulo, rodeada do brilho dos anúncios luminosos e dos reflexos das montras, a caminhar em direcção ao cabeleireiro, onde as amigas, impacientes, a aguardam... Hoje é o dia do casamento da Rita. Todas querem ajudar. Nucha, a manicura trata-lhe das unhas, Lena, o cabelo, as colegas da perfumaria, uma maquilhagem sumptuosa. Mas... e se o Paulo só gosta de mim pela minha beleza? As amigas desesperam. Mas Rita já decidiu. Pega numa revista e ordena à cabeleireira que lhe corte o cabelo, assim, como este... muito curto! Será que o Paulo vai gostar? Pelo sim e pelo não, à saída das Amoreiras, Rita compra um lenço e cobre a cabeça, meio arrependida. Na Conservatória de Alcântara, Paulo, o noivo, cansado, sujo e mal barbeado, acaba de chegar de umas filmagens nocturnas. Paulo diz o Sim a Rita, com toda a convicção (de que só o amor é capaz). Rita também, mas deixa cair o lenço devagar, mostrando o cabelo cortado para desgosto e irritação de Paulo. Começam as traições. Os recém-casados não partem para a lua-de-mel. É que Paulo não pode ir, compromissos profissionais inadiáveis e de última hora. Só partem para a semana: Cairo – as pirâmides, ou Nova Iorque. Hesitam, discutem... Saem zangados do restaurante sem almoçar. Que lindo casamento este. Ei-los na Praça de Londres. São 3 da tarde. O calor aperta. Paulo dorme exausto, na carrinha das filmagens. Acorda estremunhado, não vê Rita. Procura-a pelas lojas e cafés da Guerra Junqueiro. Entra na Mexicana, nada... Vai ao WC das senhoras, nada... Na esplanada, Rita mata a sede, rodeada de sacos de compras. Paulo aproxima-se dela, senta-se e começa a remexer nos sacos. O empregado aproxima-se. Rita começa a discutir com Paulo. Ele, impassível, ordena de beber ao empregado de mesa. Rita amua. Chegam a casa. Pintado de fresco, o apartamento de Paulo albergará doravante os dois amantes... Rita adormece. Paulo aproveita o sono dela para lhe cortar ainda mais o cabelo. Rita nem vai acreditar... O ar, próprio das noites de Verão, torna-se irrespirável. Paulo vai trabalhar. Rita sai furiosa de casa e deambula pela cidade. Será preciso sobreviver até à manhã seguinte para reencontrar a felicidade...