Aos 14 anos, Luís XIV sabe que um dia será rei e sabe também que tudo farão para o impedir de governar. Esse sentimento cria-lhe complexos. Através da dança, arte onde o rei é exímio, e das músicas que para ele compõe, Lully reforça a auto-estima do rei e revela-o ao mundo. Graças às músicas escritas para ele e às coreografias concebidas para o valorizar, a crisálida Luís transforma-se em Rei-Sol. O corpo real ao dançar foge à sua condição humana. Torna-se ideal, um Deus na terra... Nele e através dele, o Estado adquire um carácter intemporal, sagrado, incontestado. Lully e o seu companheiro Molière são os grandes condutores deste ballet à escala real, os seus mágicos ; Lully é a sua voz e muito da sua alma. Ele ama o Rei com um amor louco e platónico. Esse amor será, até ao dia da sua morte, o seu princípio e a sua lei. Lully acredita que o Rei não pode passar sem ele. Está cego, e essa cegueira vai perdê-lo e, tal como Molière, arrastá-lo na queda