A vida correu demasiado depressa para Mané. Ao passar os cinquenta anos, assiste impotente ao lento sacrifício dos seus ideais. Lucy, sua mulher, prendeu-o num quotidiano familiar. O trabalho numa pequena tasca de comércio desgastou-o. Os seus sonhos esvaíram-se na aridez dos campos de terra batida do Mindelo. Caído no esquecimento, do seu passado de grande jogador do Mindelense, em S.Vicente, nas Ilhas de Cabo Verde, resta-lhe a paixão serôdia de conhecidos, vizinhos e amigos de tertúlia: "Ele foi importante", "Foi o maior goleiro de Cabo verde", "Podia ter jogado no Benfica" Mané recusa-se a perder o estatuto de heroi. Ao treinar uma equipa de juvenis revê-se em Kalu, um jovem talentoso e rebelde. Uma vertigem de pensamentos empurra-o; também ele fora jovem, tivera oportunidades, sentira o aguilhão do amor e desperdiçara a sua chama. Uma bola de couro gasto cintila novamente nas suas mãos. O Benfica, seu clube de sempre, chama-o para o final da Taça de Portugal. Inconformado, Mané vai partir, vai lutar e vai ganhar contra todos os impossíveis. A longínqua Lisboa é o cais dos seus sonhos, a sua imaginação é um rio grande que alimenta a terra e desagua no mar.