Os dias do Senhor João de Deus decorrem sem grandes sobressaltos, divididos entre o seu trabalho no "Paraíso do Gelado", onde, a contento de todos, desempenha as funções de encarregado e de inventor da especialidade da casa, o famoso gelado " Paraíso ", que faz as delícias da clientela, e a sua casa, onde, paralelamente aos trabalhos domésticos, ocupa as suas horas de ócio, quase sempre solitárias, a coleccionar pentelhos femininos, num precioso álbum a que chama Livro dos Pensamentos. As raparigas de origem modesta que constituem o pessoal do estabelecimento, são objecto dos cuidados permanentes do responsável, zeloso pelo cumprimento de regras básicas de higiene que não façam perigrar a saúde pública. Satisfeita com o curso do negócio, Judite, a patroa, sonha fundi-lo com uma empresa francesa e conta com os préstimos de João de Deus para impressionar favoravelmente um famoso geladeiro francês, vindo expressamente de Paris para provar a especilidade da casa. Entretanto, o comportamento de João de Deus - até aí sem falhas - começa a apresentar sintomas de desvios algo inquietantes. Que o digam a senhora Arquitecta, Rosarinho, Virgínia…