Pilarvive os seus primeiros anos de reforma a tentar endireitar o mundo e a lidar com as culpas dos outros, tarefa cada vez mais frustrante nos dias que correm. Participa em vigílias pela paz, colabora em grupos católicos de intervenção social, quer acolher em casa jovens polacas que vêm a Lisboa para participarem num encontro ecuménico Taizè, põe e tira da parede da sala um quadro muito feio que um amigo pintor lhe ofereceu para que este não se ofenda por ali não o encontrar quando lhe fizer uma visita... E inquieta-se sobretudo com a solidão da sua vizinha Aurora, uma octogenária temperamental e excêntrica, que foge para o casino se tiver dinheiro com ela, fala constantemente da filha que não parece querer vê-la, ressaca antidepressivos e desconfia que a sua criada cabo-verdiana, Santa, dirige contra ela práticas malévolas de voodoo. De Santa quase nada sabemos, é de poucas palavras, executa ordens e acha que cada um deve meter-se na sua própria vida. Frequenta aulas de alfabetização e exercita-se à noite com uma edição juvenil de Robinson Crusoe, enquanto fuma cigarros estirada no sofá da patroa. Aurora fará um misterioso pedido e as outras duas unem-se para o tentar cumprir. Quer encontrar-se com um homem, Gianluca Ventura, que até àquele momento ninguém sabia que existia. Pilar e Santa irão descobrir que este existe, mas informam-nas de que já não está bom da cabeça. Ventura tem um pacto secreto com Aurora e uma história por contar. Uma história passada há cinquenta anos, pouco antes do início da Guerra Colonial portuguesa. Começa assim: «Aurora tinha uma fazenda em África no sopé do monte Tabu...»