Pegando no seu título original, “Le Monde est à toi”, que nos remete diretamente para a inscrição na estatueta visível no climax de “Scarface: A Força do Poder” (“The World is Yours”), antes de Al Pacino, embrulhado em estado de fúria e efeitos de cocaína, decidir "metralhar" tudo à sua volta ao som de "Say hello to my little friend".

Este filme de Brian De Palma é uma peça ultra-dramática que, para além da violência agregada, alude uma fantasia gangster que vai sucumbido aos limites desse imaginário. Com “O Mundo é Teu” (título português), de Roman Gavras, filho do cineasta Costa-Gavras (“Z - A Orgia do Poder”), somos induzidos a essa mesma utopia do mundo do crime, mas o conceito é levado para o lado da inaptidão dos seus elementos. Ou seja, ser gangster é um objetivo a atingir: a epifania que muitos desejam alcançar mas poucos conseguem.

Este é um universo de desajeitados e isso é mais evidente na apresentação destas caricatas personagens, que se dividem entre a paranoia do desajustamento social (Vincent Cassel, que havia trabalhado com o realizador na primeira longa-metragem - "O Dia Chegará" - é de um precioso "underacting") e a emancipação tardia, como é o caso do protagonista (Karim Leklou) subjugado aos caprichos e desejos da sua matriarca (uma retornada Isabelle Adjani).

Tudo isto é jogado como peões de um prolongado golpe de ascensão, que nunca abranda o seu tom caricatural nem se reduz na comédia embaraçosa que camufla com a personalidade desses "broncos do crime". Nesse aspecto, Gavras parece revisitar o universo adensado por Guy Ritchie (sem nunca ficar contagiado com o seu estilo formal), expondo para uma comédia híbrida de personagens sólidas e nem por isso empáticas.

Pelo meio, e como manda muito do cinema francês da atualidade, remexemos em modo leviano alguns temas da ordem do dia, tais como a imigração e o tráfico, mas nada que atire o filme por vitrines de cariz social. Só que o mercado deste registo encontra-se saturado e “O Mundo é Teu” não possui determinação suficiente, nem personalidade, para emancipar-se das vontades dos outros. Fora isso, é um "criminoso" escapista.

"O Mundo é Teu": nos cinemas a 1 de maio.

Crítica: Hugo Gomes

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