Lembre-se daquela sensação de quando se ri de tal forma descontrolada que até se engasgou. Agora imagine que o seu riso foi seco, insonoro e foi lentamente rasgando a garganta até sangrar.

"A Árvore da Discórdia" é isso mesmo e explora o fenómeno das disputas de vizinhança, que podem ir de divertidas... a irracionalmente brutais.

Centrado num subúrbio de Reykjavík, e nunca saindo deste micro-cosmos de rotinas e pessoas banais, encontramos dois casais de vizinhos numa guerra silenciosa. A sombra da árvore do jardim de Inga e Baldvin invade o jardim de Konrad e Eybjorg. Estes querem a árvore podada, os donos recusam-se a cortá-la.

Logo, pequenas agressões vão substituindo a habitual cordialidade entre os bons vizinhos e todas as personagens acabam por interpretar acções dos seus pares erroneamente, respondendo de forma vingativa e descabida... pneus furados, animais desaparecidos, gnomos no lixo.

Noutra linha paralela, o filho de Inga e Balwin é expulso de casa pela sua parceira e acaba por ir dormir para uma tenda... debaixo da árvore.

De estilo melancólico, fotografia pálida e banda sonora quebrada em tons menores, "A Árvore da Discórdia" vive da angústia e irracionalidade das suas personagens. Estas fecham-se na falta de comunicação, criando um teor humorístico sobre assuntos triviais que se elevam a extremos de violência... mas também alimentando a raiva, a depressão e a solidão, descendo numa espiral que irá afectar brutalmente os menos envolvidos.

O filme de Hafsteinn Gunnar Sigurdsson, representante da Islândia ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2018, é uma sátira dividida por uma vedação: de um lado tensão e drama, do outro, humor negro e esquizofrénico, por vezes indetetável.

"A Árvore da Discórdia": nos cinemas a 3 de janeiro.

Crítica: Daniel Antero

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