Bloodshot
A HISTÓRIA: Ray Garrison, um soldado ferido mortalmente, é ressuscitado graças à injeção de um soro experimental nas veias feito com tecnologia robótica. O resultado é uma força imparável, mais forte que nunca e capaz instantaneamente.
Crítica: Hugo Gomes
Cada geração tem o Arnold Schwarzenegger que merece!
Pois bem, um projeto como este “Bloodshot” (baseado numa banda-desenhada da Valiant Comics) seria, há uns valentes anos, mais um nas narrativas aventurosas do ator/culturista de origem austríaca. Hoje, não é mais que um pretexto para o domínio do império de Vin Diesel e do CGI autómata.
O protagonista que muito dinheiro rende com a saga “Velocidade Furiosa” parece ter tido como missão transformar um projeto com algumas ideias dignas dos confins imaginativos da ficção científica numa ode ao seu ego. O resultado é que algo que tinha potencial transformou-se numa bomba calórica de testosterona ao serviço da canastrice da estrela.
Mas nem sempre foi assim. Em tempos, mais concretamente em 2006, Vin Diesel tentou distanciar-se da imagem de “action man” bronco e monossílabo conquistada com alguns ensaios de ação bem-sucedidos e arriscou alterar por completo o físico e trabalhar com um dos melhores realizadores da história de Hollywood – Sydney Lumet (saudades!) em "Mafioso Quanto Baste...".
O Óscar esteve na mira, mas o filme foi um fracasso de bilheteira. Os "fãs" não responderam ao chamamento e condenaram a Vin Diesel a uma corrente homogénea de projetos, todos em celebração da imagem que vendera em terras "hollywoodeanas".
De vez em quando, ele expressa essa vontade de romper a carreira-carrasco. Basta ver os primeiros momentos de “O Último Caçador de Bruxas”, um dos fracassos fora do circuito “Velocidade Furiosa”, em que é evidente o entusiasmo de trabalhar com alguém de pedigree de Michael Caine. Como uma escola de atuação ambulante, Vin Diesel quis aprender, mas prevalece este modelo de ação de peito aberto.
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Em “Bloodshot”, o panorama não é assim tão diferente pois ao lado de atores como Toby Kebbell ou Guy Pearce, a estrela sai a perder. Mesmo comparado com os seus “colegas” automatizados. E a questão não é a falta de talento ou de esforço de Vin Diesel, é a necessidade de entregar aquilo que querem os fãs, um Arnold pitoresco que responda às necessidades desta nova geração. O último dos “homens viris” do cinema.
Só que é injusta a comparação com a estrela celebrizada da saga “Exterminador Implacável”, “Desafio Total” e “Predador” (três exemplos plenos no campo da ficção científica cinematográfica) porque "Arnie" sempre se mostrou disponível e bastante apto para as ridicularizações da sua própria figura. Já Vin Diesel passeia em "Bloodshot", na forma como age e é filmado, a auto-consagração do seu modelo habitual de "action man".
Fora isso, eis um filme de ação que corresponde às epidemias tecnológicas destes tempos. O climax é um autêntico videojogo gráfico (curiosamente, o realizador David Wilson fez parte da conceção de muitos videojogos, como “Mass Effect 2” ou “Halo Wars”) e a ação destaca-se pela falta de classe.
Numa indústria que vibra com as sequências "one-take" e as proezas físicas de um “John Wick”, ainda existem filmes com cortes sucessivos de montagem, "bullet time" mal empregue e rochedos em forma de bonecos de ação. E como "Bloodshot" ainda tem o apetite de abrir uma futura saga, esta overdose de Vin Diesel pode não ficar por aqui...
"Bloodshot": nos cinemas a 12 de março.
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