Os Mortos Não Morrem
Começaremos pelo ínicio: a pacata cidadela de Centerville encontra-se ameaçada por forças sobrenaturais e os mortos que se não querem manter mortos. E com o homónimo single de Sturgill Simpson a contaminar as rádios locais, Adam Driver fica a temer o pior: “isto vai acabar mal”.
Jim Jarmusch é um dos grandes nomes do cinema independente norte-americano (“Ghost Dog”, “Homem Morto”), que aqui abandona a poesia mundana do magnífico "Paterson" e aventura-se na assumida série B, seis anos depois dos vampiros boémios de “Só os Amantes Sobrevivem”.
Como efeito de uma certa igualdade, os espectadores estão sincronizados com as personagens quanto ao conhecimento dos factos, até mesmo pela denominação das criaturas nefastas: "zombies".
Tudo isto nos coloca a par de um filme-meta que se joga constantemente com a sua meta-informação, e a brincadeira, evidente ao longo do trabalho de Jarmusch, é puxada aos limites da sua linguagem (ou não-linguagem).
Era difícil cometer algum rasgo de criatividade nesta temática excessivamente explorada desde que George A. Romero reinventou o morto-vivo, extraído das fantasias vudus de “White Zombie” (1932). Entretanto, o apocalipse putrefato revelou diversas facetas, desde a comédia tresloucado ao terror moderno de cariz social.
Em relação aos “Os Mortos não Morrem”, este tratamento de distorção não é por si novo, já o Rei dos Mortos-Vivos [Romero] incentivou tais criaturas na sua variação "found footage" em “Diário dos Mortos” (2007). E quanto à integração do "zombie" enquanto elemento cultural da trama, já fora o pioneiro o subvalorizado “O Regresso dos Mortos-Vivos” de Dan O'Bannon (1985).
O que resta a Jarmusch? A anedota, a satirização de um subgénero em perfeita cumplicidade com a natureza B. E isso, tendo o “grandioso” elenco de amigos (Bill Murray, Adam Driver, Chloë Sevigny, Steve Buscemi, RZA, Tilda Swinton, Tom Waits, Danny Glover, Caleb Landry Jones, Rosie Perez, Carol Kane, Selena Gomez, Iggy Pop, que apostamos que se divertiram mais neste filme do que que o espectador alguma vez irá), sabe a pouco.
"Os Mortos Não Morrem": nos cinemas a 20 de junho.
Crítica: Hugo Gomes
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