A HISTÓRIA: A trabalhar na retaguarda de um conceituado veterano da polícia, o impetuoso detetive Ezekiel "Zeke" Banks e o seu novo colega ficam encarregues duma terrível investigação sobre assassinatos que lembram assustadoramente um passo horrível que ocorreu na cidade. Involuntariamente envolvido num mistério profundo, Zeke encontra-se no centro do jogo mórbido do assassino.

"Spiral – O Novo Capítulo de Saw": nos cinemas a 13 de maio.


Crítica: Hugo Gomes

Com um total de seis sequelas e um "spin-off", "Saw" foi um dos impulsionadores do terror "gore" moderno... e também um dos seus piores inimigos.

Estreado com alguma discrição em 2004, mas motivando uma atenção de culto vindo de fãs do "hardcore", o "thriller" sangrento dirigido pelo desconhecido (na altura) James Wan e com guião de Leigh Whannell (que mais tarde seguiria em aventuras a solo em outros cultos como “Upgrade” e “O Homem Invisível”) reciclou a tendência dos "serial-killers" moralistas, das torturas de predestinação e ainda do "twist" final (confessamos, inesperado).

Os ingredientes fizeram o sucesso de “Saw” e deram origem de uma das sagas de terror mais lucrativas. Houve um filme por ano, esticando até à exaustão o enredo e quando a saga começou a exibir sinais de desgaste nas bilheteiras, a equipa criativa assumiu a "morte" do legado em 2010 com um capítulo sublinhado como derradeiro: "Saw 3D - O Capítulo Final". Mas sete anos depois, ainda foi “ressuscitado” pelas mãos dos irmãos Spierig (“Daybreakers”, “Predestinado”), mas "Jigsaw: O Legado de Saw" (2017) não causou grande entusiasmo.

Em 2021, chega "Spiral – O Novo Capítulo de Saw", uma nova vertente orquestrada por Darren Lynn Bousman, realizador dos filmes II ao IV. Distante do original, concentra-se em trazer um pouco desse mundo e colocá-lo ao serviço de supostas "reinvenções" narrativas. Só que fica pelas promessas.

Comecemos com a “surpresa”, a de ver o comediante Chris Rock num papel mais dramático, mas nem por isso menos inventivo. Num aperitivo de “stand-up comedy”, a personagem é introduzida a explicar a desbocada e hilariante teoria de “Forrest Gump” como “filme impossível” de ser produzido em tempos governados pelo politicamente correto, mas isto não é mais do que reciclar o modelo do universo "noir": um polícia de carreira, frustrado, cínico e ferido.

Este último “puro” do seu rebanho sujo é um peão central numa demanda de justiça social, que sabemos de caras vir de um "copycat" [imitador] do mítico Jigsaw. Só que a nova figura promete uma reforma drástica na estrutura policial, sentenciando cada agente à imagem dos seus “pecados”.

Ou seja, mesmo entrando por outras vias que, de certa forma, trazem frescura a uma saga que estava em estado "rigor mortis", este “Spiral” continua a presentear-nos com a pseudo-filosofia condescendente e um vigilantismo abusivo. Mudam-se cenários e tramas, mas é só “fogo de vista”, porque regressa praticamente aos mesmos lugares-comuns e tiques manientos, como a montagem frenética digna de videoclip nos momentos mais mórbidos e a já conformada dependência do "twist" final.

Apesar de tudo, “Spiral” é, de longe, a derivação de "Saw" mais interessante e estruturada. Só que a concorrência era fraca...