Os Poetas apresentaram-se em 1997 com "Entre nós e as palavras", disco que juntava música inédita de Rodrigo Leão (teclados) e Gabriel Gomes (acordeão) à poesia portuguesa dita pelos próprios autores - como Herberto Helder, Luísa Neto Jorge e Mário Cesariny.
Na fundação do projeto - com os dois músicos acabados de sair dos Madredeus - estiveram ainda o violoncelista Francisco Ribeiro e o editor Hermínio Monteiro, que sugeriu os poemas e deu a descobrir as gravações das vozes dos poetas.
Dezasseis anos depois, durante os quais viram desaparecer Hermínio Monteiro e Francisco Ribeiro, Rodrigo Leão e Gabriel Gomes recuperam o projeto e redescobriram essa "cumplicidade entre a música e o poema", disseram em entrevista à agência Lusa.
Na verdade, o pretexto para fazer renascer Os Poetas deu-se em 2012, quando os dois músicos foram convidados pelo Festival Silêncio a fazer uma performance em Lisboa.
Mergulharam novamente na poesia portuguesa, selecionaram mais escritores, como Adília Lopes e António Ramos Rosa, e convidaram o ator Miguel Borges para dizer os poemas.
Daí até à gravação de novas composições foi um passo rápido - explicaram - e eis que surge o álbum "Autografia", cujo título recupera um poema de Mário Cesariny e no qual participam ainda as instrumentistas Sandra Martins e Viviena Tupikova.
O álbum, por enquanto, só estará à venda nos três concertos que Os Poetas vão dar nas próximas semanas: a 3 de março na Casa da Música (Porto), dia 8 no Centro Cultural de Belém (Lisboa) e dia 16 no Teatro Aveirense (Aveiro).
A ideia de Os Poetas era dar corpo musical a poemas ditos pelos próprios autores - de uma série de gravações que Hermínio Monteiro deu a conhecer a Rodrigo Leão e a Gabriel Gomes.
Nos anos 1990 não era muito comum ter registos discográficos em que se dava primazia à palavra dita, ainda que com um sustento musical com instrumentos que quase se deixam ficar na sombra dos poemas. Hoje já estão disponíveis, ainda que escassos, mais registos semelhantes.
A grande diferença, segundo Rodrigo Leão e Gabriel Gomes, entre o primeiro álbum e este segundo é o ator a dizer as palavras em tempo real, neste caso, Miguel Borges. "Aqui o ator junta-se a nós e ao mesmo tempo entra nessa cumplicidade e adapta a sua cadência e nós adaptamo-nos a cada palavra. Naquela altura existiam os poemas já gravados, estavam a ser debitados pelo CD e nós tínhamos que arranjar a cadência", disse Gabriel Gomes.
Já sem Hermínio Monteiro, editor da Assírio & Alvim que morreu em 2001, para lhes sugerir mais poemas, Rodrigo Leão e Gabriel Gomes foram eles próprios selecionando a literatura que queriam musicar. "Eu acho que os poemas tinham intenção de nos procurar para falarmos sobre eles", rematou o acordeonista Gabriel Gomes.
@Lusa
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