Depois de dois meses no concurso, a jovem de apenas 16 anos foi eliminada esta semana, mas as suas conquistas foram muito além.
"Ter participado neste programa foi muito importante para mim e tenho certeza que vai ser importante também para outras meninas como eu, outras refugiadas, trazendo a emoção da música e servindo de exemplo para muitas pessoas", contou à AFP, falando em português.
Na sua última visita aos estúdios da TV Globo, Isabel aproveitou a sua estada no Rio para ver o mar pela primeira vez.
No calçadão da praia de Ipanema, os fãs paravam a cada dez metros a adolescente de sorriso radiante e nascida na República Democrática do Congo (RDC) para pedir uma selfie com ela.
"Parabéns, você canta muito. Já é uma vencedora, mesmo com a eliminação", diz Rafael, vendedor de gelo de 26 anos.
Desde que cantou no programa "Heal the World", sucesso de Michael Jackson contra o sofrimento de crianças em todo o mundo, Isabel tornou-se um símbolo da causa dos refugiados no Brasil.
Três dias escondida
Originária de Kinshasa, Isabel sofreu uma reviravolta na sua vida em 2015, quando a violência da guerra civil a separou da sua família.
"Tive de fugir com a minha irmã, não achámos a minha mãe e ficámos escondidas na mata durante três dias", contou, tocando nervosamente nas suas longas tranças.
As duas jovens acabaram por ser encontradas por missionários brasileiros, que as levaram a Angola e, depois, para o Rio.
"Não queria ir embora porque queria encontrar a minha mãe, mas acabei por aceitar porque senão corria o risco de morrer", explicou.
A guerra civil que castiga há anos a RDC forçou centenas de milhares de pessoas a deslocar-se, entre elas as mais de 500.000 que vivem como refugiadas em países vizinhos.
Chegadas ao Brasil, as duas irmãs descobriram, graças a um registo feito pela organização católica Cáritas, que tanto a sua mãe como os seus outros quatro irmãos tinham feito o mesmo caminho semanas antes e estavam em São Paulo.
Pouco depois, o seu pai acabaria por se unir à família no fim de 2015. Agora, trabalha em São Paulo e a mãe também, como empregada de limpeza.
Um sonho
Foi precisamente em São Paulo que Isabel descobriu o seu talento para a música, graças ao coro "Somos Iguais".
O projeto, fundado pela voluntária Daniela Guimarães, pretendia apenas ser um passatempo para os filhos dos refugiados, enquanto as suas mães eram sensibilizadas sobre os riscos do cancro de mama.
"Eles cantavam tão bem que percebi que tinha que levar esse projeto adiante", explicou Daniela, que chamou o maestro João Carlos Martins para inspirar sua paixão pela música nas crianças vindas da RDC, Angola, Síria e Haiti.
O coro ganhou, assim, um certo renome com atuações em várias cidades brasileiras, o que levou a TV Globo a convidar cinco dos seus membros a participar no "The Voice Kids", a versão infantil do programa.
Isabel foi uma das selecionadas, mas como acabara de completar 16 anos, preferiram que disputasse com os concorrentes adultos, mais experientes.
A sua bela voz encantou tanto o público quanto o júri e permitiu que ela continuasse no programa até à etapa da Batalha dos Técnicos.
"Isabel representa a voz dos demais membros do coro. Ela soube aproveitar a oportunidade para carregar os sonhos dos outros refugiados", comenta Guimarães, enquanto caminha ao lado da adolescente na praia.
De volta a São Paulo, após a sua experiência na TV, Isabel, que sonhava em ser médica quando criança, espera aproveitar a fama para seguir em frente com uma carreira musical.
"Quando canto, sinto-me outra pessoa, não me sinto a Isabel triste, que sofreu, que pensava que iria morrer", confessa a menina.
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