Com direção artística e interpretação de Romeu Costa, “Maráia Quéri” é uma “palestra-performance, na qual um investigador conta uma história ficcionada, ao mesmo tempo que se vai relacionando com o público para falar sobre o estudo que está a desenvolver em relação aos ´guilty pleasures`”, disse Romeu Costa à agência Lusa.

Um investigador que é também o objeto de estudo, ao assumir publicamente pela primeira vez que gosta de Mariah Carey e que à medida que o espetáculo se vai desenrolando tenta chegar a uma conclusão sobre o que esteve a estudar e sobre si próprio em simultâneo.

Mariah Carey torna-se, assim, o pretexto, para o investigador questionar por que motivo de gosta de umas coisas e porque se é aconselhado a não gostar de outras e que repercussões isso tem na sua vida adulta.

“Falamos aqui da questão do gosto, o que é a alta cultura, a baixa cultura, a cultura erudita, a cultura de massas”, disse Romeu Costa, acrescentando tratar-se de conceitos que “policiam o dia a dia” e que a questão do “prazer – culpa” é uma expressão que “acaba por legitimar o que se consegue na intimidade e dificilmente se fala em público”.

“O espetáculo procura também refletir um pouco sobre isso. Que círculos são estes onde nós incluímos determinadas coisas e excluímos outras”, indicou.

O espetáculo, que tem muito de autobiográfico, acaba por ser também a retrospetiva de um investigador que “aos 42 anos utiliza um lugar de fala privilegiado, que é o palco, para pela primeira vez fazer também uma retrospetiva de si próprio”.

“Ao fazer aquela retrospetiva, estou também a fazer a de um rapaz que cresceu em Aveiro, uma cidade mais pequena, que é homossexual e a importância que a cultura popular na década de 1990 tem para um adolescente e que repercussões é que teve, e continua a ter, na sua vida adulta”, precisou.

“Maráia Quéri” é um espetáculo no qual Romeu Costa enquanto artista “aproveita” a sua arte “para comunicar com o mundo o que quer partilhar com as pessoas”, “expondo aos outros aquilo que se esconde” e que, quase sempre, é o mesmo que envergonha”, observou.

Em última análise, o que o espetáculo faz é “resgatar um adolescente perdido nos anos 1990 que ainda não se apaziguou com uma série de coisas e, portanto, só agora neste tempo presente é que este investigador tem a capacidade para ao falar sobre isto resgatar este seu jovem, este adolescente que ainda não teve capacidade de processar uma série de coisas”.

“Sou um aveirense, que cresceu nos anos 1990, que tem a Mariah Carey como ´guilty pleasure`, que é homossexual, que veio para Lisboa, que se tornou ator, artista e que decidiu pegar nesta bagagem toda vivencial e falar, pela primeira vez, daquilo que mais me envergonhava”, sublinhou.

Se há uns anos não conseguia falar sobre isto, agora, aos 42 anos, “é o momento certo” para o fazer e “permitir que as pessoas se apaziguem com as suas vergonhas e que não vivam tão atormentadas por elas”, concluiu.

“Maráia Quéri” é uma produção do D. Maria II e do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, e vai estar em cena na sala Estúdio até 6 de março, com sessões de quarta-feira a sábado, às 19:30, e, ao domingo, às 16h30.

Dia 27 de fevereiro, a sessão terá interpretação em Língua Gestual Portuguesa e, no final, haverá uma conversa com os artistas. A última récita terá audiodescrição.

“Maráia Quéri” tem texto de Raquel S., assistência artística e direção plástica de Marta Carreiras, desenho de projeção de José Freitas e desenho de luz de Nuno Meira. A assessoria musical é de Isabel Campelo e Filipe Melo.