O resultado é apresentado a 7 de abril numa cerimónia para celebrar os 129 do nascimento de um dos expoentes máximos da cultura portuguesa do século XX com o lançamento de uma edição especial intitulada “Fábulas de Almada Negreiros”.

A publicação em livro tem o nome da coleção, que o Museu do Abade de Baçal guarda, com 49 desenhos originais a tinta-da-china feitos por Almada Negreiros para ilustrar o livro “Fábulas”, do escritor Joaquim Manso, editado em 1936.

O propósito do museu é, como disse à Lusa o diretor, Amândio Felício, “dar uma nova vida” ao legado que Almada Negreiros deixou a Trás-os-Montes, promovendo o conhecimento e estudo aprofundado da obra.

A cerimónia programada para 7 de abril no museu contempla o lançamento do livro que apresenta “uma investigação acerca da coleção de desenhos conservada no museu, levada a cabo por Ana Miranda, um ensaio de João Sousa Cardoso acerca de Almada e deste espólio e uma série de 43 textos inéditos de Regina Guimarães, escritos a partir dos desenhos do artista”.

Como explicou o diretor do museu, a escritora fez “o percurso inverso” de Almada Negreiros, que realizou desenhos para ilustrar textos, enquanto Regina Guimarães criou “um conjunto de novos contos” a partir das ilustrações.

Estes contos estão escritos no livro e contados de viva-voz pela autora, podendo ser ouvidos através do código QR que acompanha a publicação ou numa visita ao Museu do Abade de Baçal.

O museu quis também fazer jus “ao vanguardismo e modernidade de Almada Negreiros” e pediu a oito músicos de jazz e da música experimental e improvisada a composição, a partir da coleção de desenhos, “de pequenas peças originais, com um minuto ou um minuto e meio”.

O resultado é também apresentado a 7 de abril e é da autoria dos músicos Carlos Bica, João Frade, Marcelo dos Reis, Ricardo Toscano, Rodrigo Pinheiro, Susana Santos Silva e Von Calhau e Carlos Zíngaro, que estará presente na cerimónia, assim como a escritora Regina Guimarães.

Estas iniciativas são resumidas como um contributo “para o desenvolvimento do conhecimento em torno de uma coleção menos explorada e que constitui uma peça fundamental do vasto puzzle que é a obra gráfica” de Almada Negreiros, além de abordarem “de modo pluridisciplinar” a faceta de ilustrador da “múltipla ação criativa”.

No mesmo dia da cerimónia, os desenhos de Almada regressam ao Museu do Abade de Baçal depois de terem estado em exposição, desde novembro, no Museo Etnolóxico de Ribadavia, na Galiza.

Esta exposição foi a primeira iniciativa para dar a conhecer além-fronteiras as obras de Almada Negreiros que já se encontram no Museu do Abade de Baçal desde o final da década de 1930.

Os desenhos, como contou o diretor do museu, “só foram apresentados ao público em 2006 e só agora se começa a trabalhar num conhecimento mais aprofundado da obra, nomeadamente com o livro que pretende ir além do simples trabalho habitual do catálogo das exposições”.

O museu de Bragança foi criado em 1915 e recebeu o nome do fundador, o Abade de Baçal, figura de destaque na cultura transmontana pela recolha arqueológica e etnográfica que fez no Nordeste Transmontano e que constitui o núcleo principal.

Esta é a vertente mais conhecida deste espaço, que faz parte da rede nacional de museus, mas que tem outras coleções de várias áreas e artistas portugueses dos séculos XIX e XX, como Joaquim Lopes, José Malhoa, Aurélia de Sousa, Abel Salazar, entre outros.

O espólio do Museu do Abade de Baçal vai do núcleo fundamental dedicado à etnografia a coleções na área da arqueologia, um núcleo de arte sacra, mobiliário ou numismática.