O cineasta americano Quentin Tarantino admitiu, em entrevista publicada nesta quinta-feira (19), que sabia há décadas que o produtor Harvey Weinstein cometia abusos sexuais e confessou sentir-se envergonhado por não ter feito nada a esse respeito.
Weinstein e Tarantino trabalharam juntos por décadas, desde que o produtor distribuiu "Cães Danados" em 1992. A seguir, colaboraram em "Pulp Fiction", "Kill Bill", "Sacanas Sem Lei" e "Os Oito Odiados".
"Sabia o suficiente para ter feito mais do que fiz", disse o cineasta, vencedor de dois óscares, ao jornal The New York Times, citando vários episódios envolvendo atrizes famosas.
"Havia algo mais que os tradicionais boatos e as bisbilhotices habituais. Não era [informação] em segunda mão. Gostava de ter assumido responsabilidade pelo que ouvi. Se tivesse feito o trabalho que devia ter feito naquela altura, teria que não trabalhar com ele", destacou.
Weinstein, de 65 anos, foi acusado de abuso e assédio sexual por 40 atrizes, entre elas Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e Mira Sorvino, ex-namorada de Tarantino.
Tarantino disse ao Times ter ouvido falar sobre a conduta de Weinstein muito antes da publicação dos artigos deste jornal e da revista The New Yorker, que revelaram o escândalo. Mira Sorvino contou-lhe a sua experiência e outra atriz relatou-lhe acontecimentos semelhantes anos mais tarde. Também sabia que a atriz Rose McGowan tinha chegado a um acordo financeiro com o produtor.
O realizador diz não ter percebido que essas mulheres que conheceu faziam parte de um abuso muito mais amplo e apesar de ter continuado a ouvir histórias alarmantes ao longo dos anos, continuou a fazer filmes com aquele que era o seu maior defensor na indústria, decisão que agora lamenta.
"O que fiz marginalizou os incidentes", disse.
"Qualquer coisa que diga agora soará a uma desculpa barata", acrescentou o realizador, premiado com o Óscar pelos argumentos de "Django Libertado" em 2013 e "Pulp Fiction" em 1995.
"Hollywood tem estado a operar num sistema de quase segregação que nós homens sempre tolerámos. Permitimos que isso existisse porque era assim que era. Apelo aos outros tipos que sabiam mais para não terem medo. Não façam apenas comunicados. Reconheçam que existia algo podre [...]. Comprometam-se a apoiar mais as nossas irmãs. O que antes era aceitável agora é intolerável a qualquer pessoa com uma certa consciência", afirmou.
Já na semana passada, Quentin Tarantino tinha quebrado o silêncio sobre o tema.
Depois de um jantar com o amigo, a atriz Amber Tamblyn publicou um depoimento em nome de Tarantino que dizia: "Durante a última semana tenho estado atordoado e de coração partido pelas revelações que vieram a público sobre o meu amigo de 25 anos Harvey Weinstein. Preciso de mais alguns dias para lidar com a minha dor, emoções, raiva e memórias e então falarei publicamente sobre isso".
A Miramax e a The Weinstein Company produziram e distribuíram todos os filmes do realizador: "Cães Danados" (1992), "Pulp Fiction" (1994), "Jackie Brown" (1997), "Kill Bill" (2003-2004), "À Prova de Morte" (2007), "Sacanas Sem Lei" (2009), "Django Libertado" (2012) e "Os Oito Odiados" (2015).
Depois de ter sido expulso da Academia de Hollywood, esta semana, o Harvey Weinstei renunciou ao cargo no conselho de administração do seu estúdio, depois de ter sido demitido da presidência. A Polícia de Los Angeles também abriu uma investigação sobre uma possível sexta vítima de abuso sexual.
Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Ashley Judd, Léa Seydoux e Asia Argento figuram entre as mulheres que denunciaram uma série de episódios diferentes que vão desde presumíveis comportamentos sexuais abusivos a supostas violações por parte do produtor galardoado com um Óscar pela produção de “A Paixão de Shakespeare” (1998).
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