A 25 de novembro de 1992, há precisamente 25 anos, estreava com pompa e circunstância o novo filme animado da Disney. Estava-se em plena euforia do renascimento criativo e popular do estúdio do Rato Mickey, coroado no ano anterior com a nomeação ao Óscar de Melhor Filme de “A Bela e o Monstro”, a primeira vez na história que tal sucedia com uma fita animada.

Com Robin Williams a dar a voz ao Génio, “Aladdin” popularizou o conceito de colocar grandes estrelas de cinema a dar voz a personagens animadas e tornou-se rapidamente o maior sucesso de sempre de um filme de desenho animado até àquela data, ganhando a seguir dois Óscares e dando depois origem a um espetáculo da Broadway, uma série televisiva de animação, duas sequelas feitas diretamente para "home-video" e um "remake" de imagem real, agendado para estrear em 2019.

Claro que em 1988, quando o projeto arrancou, ninguém conseguia ainda prever tal dimensão de sucesso. O panorama do cinema era então radicalmente diferente e a animação de longa-metragem andava há 20 anos pelas ruas da amargura, desde o falecimento de Walt Disney em 1966. As estreias eram muito espaçadas e quase sempre pouco entusiasmantes e o consenso generalizado era de que os anos dourados dos “cartoons” nunca mais regressariam.

O renascimento da Disney

Com a entrada em cena de uma nova administração no estúdio em 1984, as coisas começaram a mudar. Logo nesse ano de 1988, estreou “Quem Tramou Roger Rabbit”, uma delirante homenagem aos "cartoons" dos anos 30 e 40 e que fundia animação e imagem real, e foi um sucesso colossal em todo o mundo.

No ano seguinte, chegou às salas “A Pequena Sereia”, uma longa-metragem de animação que devolvia a Disney à tradição dos contos de fadas e do musical, e que foi um êxito gigantesco e arrebatou os Óscares de Melhor Canção e Melhor Banda Sonora Original. Muitos viram logo ali um renascer criativo do estúdio, o que se confirmaria em 1991 com “A Bela e o Monstro” e nova dupla de Óscares na mesma categoria a somar-se à já referida e inédita nomeação a Melhor Filme.

Com “Aladdin”, comprovou-se que não havia coincidências e, mesmo fugindo ao conto de fadas e arriscando numa fábula oriental das Mil e Uma Noites, o sucesso foi ainda maior, com nova dupla de Óscares na categoria musical a confirmar a hegemonia do estúdio nessa vertente.

Além dos realizadores John Musker e Ron Clements, que já tinham assinado “A Pequena Sereia”, dois dos grandes obreiros do renascimento criativo da Disney foram precisamente os autores das bandas sonoras, Alan Menken na partitura e Howard Ashman nas letras, em redor das quais se construíam os argumentos e a definição das personagens de cada um dos filmes.

E um dos grandes abalos na produção de “Aladdin” foi o falecimento do segundo (de quem aliás partiu a ideia original do filme) em 1991, vítima de SIDA, ficando a cargo de Tim Rice (o lendário letrista de espetáculos como “Evita” ou “Jesus Cristo Superstar”), completar o número de canções, incluindo a oscarizada “A Whole New World”.

Uma personagem animada feita à imagem de uma estrela

Uma das maiores novidades da fita junto do público foi ter uma das maiores estrelas da altura a dar a voz a uma personagem, e esse facto a ser amplamente usado na promoção da película. Não era a primeira vez que se usavam vozes conhecidas no cinema de animação: a própria Disney usara cantores populares como Louis Prima como King Louie no “Livro da Selva” (1967) ou Cliff Edwards como o Grilo Falante, em “Pinóquio” (1940), e mesmo no ano anterior Angela Lansbury dera voz e alma a Mrs Potts em “A Bela e o Monstro”.

Génio Aladdin

Mas nunca uma estrela fizera depender tanto de si uma personagem e nunca isso entrara de tal forma na mente dos espetadores: o Génio era Robin Williams, frenético e desvairado, a debitar piadas e mudar de voz e forma a uma velocidade estonteante, fazendo pleno uso das potencialidades da animação. E o raciocínio era, de facto, completamente oposto ao de até então, em que se pressupunha que o espetador não podia sair do filme e pensar no ator que fazia a prestação vocal. E de tal forma Williams impressionou que muito se discutiu na altura se ele não deveria ser nomeável ao Óscar de Melhor Ator pelo papel.

O grande defensor da ideia de colocar estrelas no elenco vocal foi Jeffrey Katzenberg, um dos principais responsáveis da Disney à época, que preencheu logo totalidade do elenco do filme seguinte, “O Rei Leão”, com vozes de estrelas de primeira água, o que faria de seguida em praticamente todos filmes animados da DreamWorks, que co-fundou em 1994, e que muitos seguiram como regra na indústria.

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Mas se a música e a voz de Williams eram atrativos fora de série, o que cativou desde logo os espetadores foi o equilíbrio notável entre o humor desopilante e verdadeiramente desenfreado com a ternura do garoto que sonha ser mais que um vagabundo de rua, se apaixona por uma princesa e acaba por ter de provar que não é príncipe apenas quem nasce num palácio. O deslumbre da animação da Disney, aqui com uma maior estilização que o habitual, com os animadores formados nos anos 70 e 80 a atingirem o estado de graça nesta década, fez o resto.

Diversidade racial

De todos os filmes Disney, aliás, “Aladdin” é o que acumula um maior número de personagens fortíssimas que não se atropelam umas às outras (Aladdin, Jasmine, o macaquinho Apu, o Génio, o tapete voador, o vizir Jaffar, o papagaio Iago…) e é também aquele em que se começou a sinalizar uma preocupação mais intensa com a pesquisa do período e a sensibilização racial.

Neste caso, as queixas vieram do Comité de Anti-Descriminação Americano-Árabe que criticou a figuração das personagens, nomeadamente a ocidentalização das figuras dos heróis Aladdin e Jasmine e o lado mais grotesco, de pele escura e sotaque carregado dos vilões.

Maior polémica ainda deu a canção de abertura “Arabian Nights”, que, usando o humor característico do filme, descrevia a terra das Mil e Uma Noites como um local “where they cut off your ear if they don’t like your face”, o que obrigou a que, na edição de “home-video” do filme, se tenha trocado essa frase por um mais neutra "where it's flat and immense and the heat is intense".

Mais importante, levou a que a partir daí o estúdio prestasse uma atenção cada vez mais obsessiva aos detalhes de cada povo retratado, o que se verificou logo a seguir com os índios americanos em “Pocahontas” (1995) e se mantém em crescendo até hoje, com o retrato muito elogiado da Polinésia em “Vaiana”.

O sucesso, como já se disse, foi esmagador, arrecadando nas bilheteiras 504 milhões de dólares com um orçamento de 28, e com a banda sonora a vender cerca de dois milhões e meio de cópias. O estatuto de clássico colou-se-lhe de imediato à película e o seu estatuto, entre o fãs e principalmente entre os animadores, só tem aumentado desde então.