A atriz alemã Diane Kruger encarna com talento uma mulher ferida que se vinga de terroristas neonazis que matam o seu marido e filho em "In the Fade", do turco-alemão Fatih Akin, exibido esta sexta-feira, último dia de apresentação dos títulos em disputa pela Palma de Ouro no Festival de Cannes.

"Houve cenas difíceis de gravar, de viver. As cenas de luto, de extremo sofrimento, era algo quase insuportável. Vivi algo terrível. Desde então não trabalhei", declarou a atriz alemã ao Canal+.

Nesta longa-metragem "que mudou a [sua] vida", Kruger personifica Katja, uma mulher que vive em Hamburgo - cidade querida do realizador - cujo filho de seis anos e o marido, de origem turca e ex-detido por tráfico de drogas, são mortos num ataque à bomba.

Enquanto a investigação orienta-se primeiro para as máfias turca e curda, dado o passado de seu marido, ela finalmente resolve o caso na esfera neonazi, com a prisão de um casal fanático. Mas, sem provas concretas, os responsáveis não são condenados e Katja, já sobrecarregada pelo horror, perda e luto, mergulha numa vingança obscura.

Para escrever a sua história, Fatih Akin disse que se inspirou nos crimes racistas cometidos pelo grupo NSU [partido nacional-socialista clandestino] contra os imigrantes na Alemanha na década de 2000.

"O escândalo deve-se ao facto que a imprensa, a sociedade alemã, pensaram que os assassinos eram turcos, curdos, que eram traficantes de drogas. De certa forma, as vítimas foram mortas duas vezes. Isso deixou-se zangado e foi por isso que escrevi este argumento", explicou em conferência de imprensa.

Construído em três atos, não faltam cenas fortes em "In the Fade", com uma Diane Kruger comovente e em quase todos os planos. Mas o argumento muito bem definido e a elegância, nuance que caracterizou o cinema de Akin em "Head On - A Esposa Turca" (Urso de Ouro em Berlim em 2004) e em "Do Outro Lado", prémio de melhor argumento no Festival de Cannes em 2007, estão aqui ausentes.

Os elogios são unânimes em reconhecer o trabalho de Diane Kruger, que filmou o primeiro filme na sua língua materna.

A atriz de 40 anos, que admite ter "problemas para dormir" desde o ataque de Manchester [22 mortos] apresenta-se como uma forte candidata para o prémio de melhor atriz, ao lado das russas Vassilina Makovtseva ("A Gentle Creature") e Mariana Spivak ("Loveless") e da americana Nicole Kidman ("The Beguiled").

Cannes ao cair do pano

Outro filme em disputa pela Palma de Ouro sacudiu a Croisette, "L'amant double", do francês François Ozon, um thriller "hitchcockiniano" que explora o desejo feminino e diverte-se a brincar com os códigos do género.

Desde a primeira cena que o palco fica montado: a última obra do realizador francês quer saber o que acontece no corpo de uma mulher, e talvez na sua cabeça.

O cineasta de "Oito Mulheres" e do elegante "Frantz", muitas vezes nomeado e raramente premiado, decidiu traduzir em imagens, e com um gosto pela provocação, a tempestade que agita a cabeça da seu heroína.

Ela é Chloe, interpretada por Marine Vacth, atriz revelada no seu "Jovem e Bela" (2013) sobre uma adolescente que se prostitui.