É uma oferta que eles ainda não podem recusar: Francis Ford Coppola liderará um desfile de veteranos titãs do cinema americano de regresso ao Festival de Cinema de Cannes na próxima semana, num provável canto de cisne para a geração da "Nova Hollywood".
O cineasta de "O Padrinho" será acompanhado pelo criador de "Star Wars", George Lucas, e pelo argumentista de "Taxi Driver", Paul Schrader, na Riviera Francesa, para o encontro cinematográfico mais famoso do mundo, onde os três homens tiveram sucesso no auge da década de 1970.
Meio século depois, Coppola e Schrader competirão pela cobiçada Palma de Ouro do festival com os seus novos filmes "Megalopolis" e "Oh Canada", enquanto Lucas receberá um prémio honorário pela sua carreira de grande sucesso.
“Dá a sensação do velho pistoleiro a voltar à cidade para um último confronto”, disse o historiador de Hollywood Thomas Doherty.
“É como um ponto de exclamação nas suas carreiras”, concordou o veterano jornalista de cinema norte-americano Tim Gray.
“Sim, estes tipos são nomes consagrados, bem conhecidos, mas são artistas e são reconhecidos pela comunidade cinematográfica de todo o mundo”, destacou.
Os três eram figuras centrais de um grupo de cineastas rebeldes, apelidados de "Nova Hollywood", que derrubaram o conservador sistema de estúdios de Hollywood na década de 1970.
Contribuíram com estilos artísticos da "Nouvelle vague" francesa [Nova Vaga] da década anterior, juntamente com a sua ideia do realizador como um "autor" visionário.
Eles também mudaram fundamentalmente a forma como os filmes eram financiados – mais notavelmente Coppola, que se separou dos estúdios tradicionais de Hollywood e despejou vastas somas do seu próprio dinheiro em filmes colossais como “Apocalypse Now”.
Esse filme rendeu a Coppola uma das suas duas Palmas de Ouro (a primeira foi com "O Vigilante"), que espera que um raio caia pela terceira vez com "Megalopolis", outro projeto épico de paixão que lhe custou 120 milhões de dólares.
Coppola, 85 anos, vendeu parte da sua propriedade vinícola na Califórnia para financiar o filme, sobre a rivalidade entre dois homens que lutam para reconstruir uma metrópole em ruínas.
Ainda não tem um grande distribuidor de Hollywood.
"Adorei essa decisão. Coppola é audacioso", diz Gray, ex-editor da Variety que agora é vice-presidente executivo dos Globos de Ouro.
"Como cineasta e homem do espetáculo, Coppola sempre pressionou... ele desafiou a lógica da carreira", elogiou.
"Adieu"
Espera-se que a presença de tantos envelhecidos gigantes do cinema americano a dizer um "adieu" [adeus] potencialmente final a Cannes seja um tema profundamente emocional e sentimental.
George Lucas – um dos realizadores de cinema mais ricos e famosos de todos os tempos – recebeu relativamente poucos prémios na sua América natal.
Mas foi a exibição da sua estreia na ficção científica "THX 1138", em Cannes, em 1971, que o colocou no caminho da criação de "Star Wars" e "Indiana Jones".
Com o seu regresso à Croisette no dia do seu aniversário dos 80 anos, Lucas “não precisa de dinheiro, não precisa de nada”, disse Gray.
"Mas é uma espécie de reconhecimento dele como um autor", explicou.
E não serão apenas os realizadores. Várias estrelas que também surgiram na era da Nova Hollywood juntar-se-ão a eles.
"Megalopolis" apresenta os vencedores de Óscares Dustin Hoffman e Jon Voight, bem como Laurence Fishburne, que apareceu quando era adolescente em "Apocalypse Now".
Paul Schrader - cujo "Taxi Driver", de Martin Scorsese, ganhou a Palma de Ouro em 1976 - reencontra Richard Gere, décadas depois de "American Gigolo", no papel de um homem que fugiu da convocatória para a Guerra de Vietname assombrado pelo seu passado em "Oh Canada".
Meryl Streep, outra figura-chave da época pelos seus papéis em “O Caçador” e “Manhattan”, também receberá uma Palma de Ouro honorária no festival.
Promete ser uma despedida final importante, disse Doherty:
“Precisamos fazer-lhes a saudação final”, apontou.
O 77.º Festival de Cinema de Cannes começa na próxima terça-feira, 14 de maio, e vai até 25 de maio.
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