"Simón de la montaña", primeira longa-metragem do realizador argentino Federico Luis, venceu o grande prémio da Semana da Crítica no Festival de Cannes esta quarta-feira.

O filme narra a amizade que Simón (interpretado pelo ator Lorenzo "Toto" Ferro) estabelece com um grupo de pessoas com deficiência intelectual numa localidade dos Andes, para a surpresa dos seus pais.

Ao capturar as aventuras vividas, a câmara vai revelando lentamente uma realidade mais complexa do que parece, começando pelo próprio Simón, uma figura intrigante que transita perfeitamente entre dois mundos.

A Semana da Crítica é uma das secções paralelas do Festival de Cannes que, desde 1962, reúne críticos franceses para premiar jovens talentos do mundo cinematográfico.

Esta conquista chega dias após o cinema argentino se manifestar em Cannes contra a política ultraliberal do presidente do país, Javier Milei.

"O governo lançou uma cruzada contra a cultura, a ciência e a educação", criticaram em comunicado os cineastas presentes no festival.

"Dada a mínima importância dos números das finanças públicas dos cortes propostos, só podemos pensar que estas ações são um ataque ideológico", acrescentaram.

Poder em vez de vulnerabilidade

Federico Luis começou a fazer sucesso no cinema argentino com "La Siesta", curta-metragem apresentada em 2019 em Cannes e que posteriormente foi premiada em Toronto e Buenos Aires.

"Simón de la montaña" foi filmado com jovens com diferentes graus de deficiência, com uma espontaneidade desarmante e apenas alguns cursos de teatro.

"Simón é um pouco esta personagem que parece um estranho num mundo onde todos são diferentes dele", explicou o realizador à France-Presse em Cannes.

"Esta diferença não os coloca numa posição de maior vulnerabilidade, mas sim de poder", acrescentou o cineasta de 34 anos.

O ator que interpreta o protagonista, Lorenzo Ferro, um dos atores em ascensão na Argentina, já esteve em Cannes para apresentar "O Anjo", em 2018.

A Semana da Crítica também concedeu o prémio da Fundação Louis Roederer ao ator Ricardo Teodoro, um dos protagonistas do filme brasileiro "Baby".

Teodoro interpreta um homem mais maduro que se relaciona com um jovem de 21 anos, mostrando a vida da comunidade LGBTQIA+ na cidade de São Paulo.