Parece uma conspiração política saída dos melhores romances.

Em agosto, os produtores de "A Hora do Lobo", realizado pelo francês Jean-Jacques Annaud, foram informados que o seu filme tinha sido escolhido para ser o candidato oficial da China à corrida para as nomeações do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Trata-se de uma escolha curiosa: há menos de 20 anos, Annaud tornou-se "Persona non grata" naquele país por ter feito "Sete Anos no Tibete".

No entanto, a meio de setembro, Jia Zhangke informou os jornalistas no Festival de Cinema de Toronto que apresentou ao Comité de Cinema da China a candidatura do seu último trabalho, "Se as Montanhas se Afastam".

"Ouvi rumores de que "A Hora do Lobo" tinha sido confirmado como o representante. Mas acho que isso não podia estar correto. Não acaba antes de 1 de outubro", afirmou, referindo-se ao prazo-limite oficial para os países apresentarem os seus candidatos.

De acordo com as regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em Los Angeles que atribui os Óscares, o filme tinha de ser exibido a nível comercial no seu país de origem durante uma semana para se qualificar e foi isso que aconteceu de forma limitada nas salas de cinema de Xangai entre 8 e 14 de setembro. "Queria ir com este", admitiu o realizador.

As declarações levaram Wang Weimin, um dos produtores de "A Hora do Lobo, a insultar Jia Zhangke na rede social chinesa Weibo, ao mesmo tempo que defendia as razões para o seu filme representar o seu país nos Óscares.

"Recentemente, muitos amigos estão a contactar-me para dizer que o "especialista em ganhar prémios no estrangeiro" defende que o seu filme vai representar a China no Óscar de Língua Estrangeira", escreveu, numa referência ao facto de os trabalhos do realizador terem sucesso nos festivais estrangeiros, mas pouca visibilidade no seu país de origem.

"Os seus filmes são tão obscuros e "profundos" que não retêm a minha atenção. Nunca acabei de ver um".

Uma vez que "A Hora do Lobo", com 110 milhões de dólares, está entre os 15 mais rentáveis do ano na China, o produtor acrescentou: "Portanto, este é um filme com valores populares que saiu para fora... se este filme não pode representar a China na corrida aos Óscares, que tipo de filme é que devia?"

Várias vezes levantaram-se então em defesa de Jia Zhangke, com alguns a questionarem se "A Hora do Lobo" era sequer um candidato apropriado uma vez que Annaud não é chinês, mas no fim essa candidatura foi confirmada.

Filmado em 3D após uma preparação de sete anos, esse filme conta a história de um jovem estudante de Pequim que em 1967 é enviado para a Mongólia com a missão de educar uma população rural isolada e acaba fascinado pelos lobos que vivem nas estepes. Foi exibido no Festival de Cannes com grande sucesso e estreia em Portugal a 22 de outubro, após uma antestreia na Festa do Cinema Francês que trará Jean-Jacques Annaud ao nosso país.

Igualmente bem recebido no festival foi precisamente "Se as Montanhas se Afastam", que segue a jornada emocional de várias personagens desde a explosão económica na China nos anos 1990 até à Austrália em 2025. A data de estreia nacional foi marcada para 17 de dezembro.

Tudo o que se passa à frente e atrás das câmaras!

Receba o melhor do SAPO Mag, semanalmente, no seu email.

Os temas quentes do cinema, da TV e da música!

Ative as notificações do SAPO Mag.

O que está a dar na TV, no cinema e na música!

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOmag nas suas publicações.