Os realizadores belgas
Jean-Pierre e
Luc Dardenne, vencedores da Palma de Ouro em Cannes em 1999 e 2005, apresentaram este domingo
«Le Gamin au Vélo», o drama de Cyril, que procura o pai que o abandonou e não quer responsabilidades com ele.

O filme dos irmãos Dardenne, que participam pela quinta vez desde 1999 na mostra oficial de Cannes, assenta na presença e actuação natural de
Thomas Dorel, que interpreta Cyril, o menino de 11 anos que vive num orfanato e tem o sonho de morar com o pai.

«O pai não era mais que uma ilusão para Cyril», disse Jean-Pierre Dardenne. Ao perceber que o pai não o deseja, Cyril revolta-se e abandona o orfanato onde vive. Na fuga, encontra Samantha, uma jovem que trabalha num salão de beleza, interpretada pela famosa actriz belga
Cécile de France.

Samantha actua como fada madrinha e ajuda Cyril, que tem como única alegria andar de bicicleta a alta velocidade. Mas o menino esbarra num homem com antecedentes penais que finge ajudá-lo, mas deseja apenas um cúmplice para um roubo.

«Le Gamin au Vélo» é como um conto. Cyril é um pouco Pinóquio, um pouco Capuchinho Vermelho. Há um bosque, que é o lugar da tentação. E um homem mau. Cyril vai passar por testes que o farão perder suas ilusões, e uma fada virá salvá-lo», reconheceu Luc Dardenne.

«Cyril é um menino sem rumo que atravessa todas estas dificuldades. Samantha procura protegê-lo, mas ele não aceita que ela possa gostar dele, que deseje ajudá-lo a sair da sua revolta».

«Os nossos filmes têm um olhar crítico sobre a sociedade actual, sobre a vida social de hoje, sobre as perguntas que fazemos: quem somos, para onde vamos. Também reflectimos sobre a crise das relações sociais, a crise da família», acrescentou. «Somos irmãos e as histórias de família interessam-nos», explicou Jean-Pierre.

Os irmãos Dardenne conquistaram uma primeira Palma de Ouro por
«Rosetta», em 1999, e a segunda seis anos depois por
«A Criança». Em 2008 receberam o prémio de Melhor Argumento por
«O Silêncio de Lorna».

O segundo filme exibido neste domingo na mostra oficial foi
«The Artist», uma longa-metragem muda e filmada em preto e branco, realizada pelo francês
Michel Hazanavicius e protagonizada por
Jean Dujardin. A obra gerou um sorriso no Festival de Cannes, após vários filmes sobre violência familiar, pedofilia e prostituição.

O filme francês mostra duas estrelas dos anos 20 em Hollywood, quando o som chega à Sétima Arte, o que leva um popular actor ao esquecimento e lança para o estrelato uma jovem actriz, apaixonada pelo antigo ídolo.

A longa-metragem inteligente, repleta de humor e impregnada por um sentimento de solidariedade, foi a mais aplaudida até o momento entre os filmes da competição oficial, iniciada na quinta-feira e dominada até então por obras que reflectem a miséria humana.

Hazanavicius, que rodou o filme em Hollywood, joga com os códigos do formato para criar uma obra onde deu primazia à imagem e às emoções.

Questionado sobre o que o levou a realizar um filme mudo e a preto e branco, em plena era do 3D, o cineasta afirmou que tinha o desejo de «fazer um cinema puramente visual».

«O cinema mudo impõe aos espectadores uma maneira de ver o filme, impõe o melodrama», explicou o realizador na entrevista colectiva, durante a qual manifestou admiração por cineastas como
Alfred Hitchock,
Fritz Lang,
Ernest Lubitch,
King Vidor e
Frank Borzage, que iniciaram suas carreiras no cinema mudo.

«The Artist» não tinha sido seleccionado inicialmente para figurar na mostra oficial do festival e seria exibido apenas em sessão especial. Porém, poucos dias antes da abertura do certame, o director artístico da mostra, Thiery Frémaux, decidiu inclui-lo na lista de 20 filmes que disputam a Palma de Ouro.

SAPO/AFP