Miki Zohar, ministro da Cultura israelita, descreveu na segunda-feira como um “momento triste para o mundo do cinema” a atribuição de um Óscar ao documentário israelo-palestiniano “No Other Land”, sobre a colonização na Cisjordânia.

O filme, codirigido pelo palestiniano Basel Adra e pelo israelita Yuval Abraham, aborda a colonização de Israel na Cisjordânia do ponto de vista de um jovem.

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No domingo, ganhou o Óscar de Melhor Documentário, a mesma categoria que já recebera no Festival de Berlim em 2024.

“Em vez de apresentar a complexidade da realidade israelita, os cineastas optaram por amplificar histórias que distorcem a imagem de Israel perante o público internacional”, escreveu Zohar, membro do Likud, o partido do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, numa mensagem na rede social X (antigo Twitter).

“A liberdade de expressão é um valor importante, mas fazer da difamação de Israel uma ferramenta de promoção internacional não é arte, é sabotagem contra o Estado de Israel, especialmente depois do massacre de 7 de Outubro [2023] e da guerra em curso”, acrescentou, referindo-se ao ataque sem precedentes do movimento islâmico palestiniano Hamas e à subsequente guerra na Faixa de Gaza.

O trabalho com 95 minutos que pode ser visto em Portugal na plataforma Filmin passa-se em Massafer Yatta, área no sul da Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967, e retrata a vida de um jovem palestiniano que luta contra o que a ONU considera o deslocamento forçado dos habitantes da região.

Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham

O Óscar foi o momento mais político da 97.ª cerimónia.

Basel Adra, jornalista e ativista palestiniano, considerou "uma grande honra" a distinção. O documentário não teve distribuidor nos EUA, tendo sido exibido apenas em cinemas selecionados de todo o país.

"Há cerca de dois meses, fui pai, e espero que a minha filha não tenha de viver a mesma vida que estou a viver agora, sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e as deslocações forçadas que a minha comunidade, Masafer Yatta, está a viver e a enfrentar todos os dias sob a ocupação israelita", disse o realizador.

"'No Other Land' reflete a dura realidade que enfrentamos há décadas e a que resistimos, ao mesmo tempo que apelamos ao mundo para que tome medidas sérias para pôr fim à injustiça e à limpeza étnica do povo palestiniano".

"No Other Land"

Já Yuval Abraham, um jornalista israelita que recebeu ameaças de morte após "No Other Land" ganhar em Berlim, recordou que "fizemos este filme, palestinianos e israelitas, porque juntas as nossas vozes são mais fortes. Vemo-nos uns aos outros, a destruição atroz de Gaza e do seu povo, que deve acabar, os reféns israelitas, brutalmente capturados no crime de 7 de Outubro, que devem ser libertados".

"Quando olho para o Basel, vejo o meu irmão, mas somos desiguais", prosseguiu. "Vivemos num regime em que sou livre ao abrigo da lei civil, e o Basel está sujeito a leis militares que lhe destroem a vida e que ele não consegue controlar".

Na sua intervenção, disse ainda "que há um caminho diferente, uma solução política sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os nossos povos" e alertou que a atual política externa dos EUA “está a ajudar a bloquear esse caminho.”

Abraham sublinhou que os dois povos, israelita e palestiniano, estão interligados. "O meu povo pode estar realmente seguro se o povo de Basel estiver realmente livre e em segurança", afirmou, insistindo "noutra forma" de resolver o conflito. "Não é tarde para a vida, para os vivos. Não há outro caminho", concluiu.

VEJA  O DISCURSO.