Atores negros como favoritos em várias categorias, mulheres e cineastas de origem asiática na disputa pelo prémio de Melhor Realização: este ano, os Óscares bateram o recorde de diversidade, e não apenas graças à pandemia que mudou os planos de Hollywood.

Um dos fatores da mudança foi a reforma iniciada pela Academia, que organiza a cerimónia de maior prestígio do cinema americano, para ampliar o número de membros e fazer com que reflitam mais o conjunto da sociedade.

Óscares: a lista completa de vencedores
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"Acho que estes Óscares serão lembrados como aqueles em que as mudanças introduzidas no corpo de votantes há seis anos, graças ao #OscarsSoWhite, cumpriram as promessa de reforma da Academia", escreveu o ator afro-americano Dwayne Barnes num artigo para o site especializado Deadline sobre a edição que se vai festejar este domingo, 25 de abril.

O falecido Chadwick Boseman e Viola Davis ("Ma Rainey: A Mãe dos Blues"), Daniel Kaluuya ("Judas e o Messias Negro") e a sul-coreana Youn Yuh-jung ("Minari") têm boas hipóteses de vitória no domingo nas categorias de interpretação. Chloé Zhao, nascida na China, é a favorita para o Óscar de Realização por "Nomadland - Sobreviver na América".

A campanha #OscarsSoWhite foi criada em janeiro de 2015 nas redes sociais para denunciar a grande maioria de candidatos brancos nomeados por uma Academia composta principalmente por homens idosos anglo-saxões.

Sob pressão, a Academia reconheceu em 2016 que os seus seis mil membros na altura eram 93% brancos e 76% homens, com uma idade média de 63 anos. A instituição anunciou que pretendia dobrar o número de mulheres e membros de origens diversas até 2020.

A aposta concretizou-se no ano passado, quando os profissionais que votam nos Óscares passaram a ser 33% mulheres e 19% de "minorias sub-representadas" (1.787 membros no total).

"Demorou alguns anos para acontecer, mas há muitos motivos para esperar que a mudança não seja uma ocorrência única", escreveu Barnes.

"Tempestade perfeita"

"Ma Rainey: A Mãe do Blues"(Netflix)

Após o movimento #OscarsSoWhite aconteceram mobilizações para exigir o reconhecimento das mulheres em todas as profissões da indústria cinematográfica, à frente e atrás das câmaras, impulsionadas pelas revelações do caso dos abusos sexuais do produtor Harvey Weinstein.

"Tudo isto realmente sacudiu a árvore. E este ano, pela primeira vez, porque a COVID atrasou muitas grandes produções... isto deixou uma espécie de campo aberto", afirma Sasha Stone, fundadora do site especializado Awards Daily, o espaço mais importante de análise aos prémios de cinema desde 1999.

A "seleção reduzida" de filmes em disputa "por acaso era de produções de cineastas de cor e mulheres", acrescentou, antes de observar que "ninguém precisava de se preocupar com os números de bilheteira do fim de semana de estreia" para filmes sem estrelas.

Ao lado dos cinemas fechados e dos espectadores limitados ao streaming, tudo provocou a "tempestade perfeita".

O crescimento expressivo da plataformas durante a pandemia "certamente é parte" do processo, porque a diversidade na televisão aumentou muito mais rapidamente do que no cinema, confirma Darnell Hunt, sociólogo especializado na representação de minorias da universidade UCLA.

O sucesso do streaming "ajudou a levar à Academia uma gama muito mais variada de filmes do que estavam habituados a assistir e isto traduziu-se nas nomeações", completa Hunt, que coordena desde 2014 um estudo sobre a diversidade em Hollywood.

"A salada"

Os analistas afirmam que os progressos da Academia não devem ser tão espetaculares nos próximos anos, mas Hunt não imagina que possa voltar ao que era antes.

"Os sinais estão a apontar na direção certa", disse à France Press, observando que, além das mudanças para a adesão, a Academia está a adotar critérios de elegibilidade para Melhor Filme que envolvem uma representação mínima de minorias, mulheres e da comunidade LGBTQ, tanto nas equipas técnicas como nos elencos.

Isto será suficiente para mudar Hollywood no seu conjunto? Sasha Stone espera que sim e aponta que prémios como os Óscares estão cada vez mais separados das bilheteiras "porque se tornaram um nicho".

No entanto, recorda que a indústria do cinema procura sobretudo "ganhar dinheiro".

"Se os realizadores do sexo masculino conseguem mais dinheiro, continuarão a ser contratados para os filmes de super-heróis. E se os atores brancos geram mais dinheiro, continuarão a ser contratados para os mesmos filmes", garante.

Hollywood "quer ganhar dinheiro, mas também quer ter uma boa imagem, os Óscares ajudam com isso. É como o McDonald's: vendem Big Macs em todo o mundo, mas tem uma salada que faz com que pareça que se preocupa com a saúde".

"Isto é são os Óscares para Hollywood: a salada".

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