"Dispararon al pianista", dirigido pelo espanhol Fernando Trueba e com desenhos de Javier Mariscal, narra a investigação de um jornalista americano sobre Francisco Tenório Junior, um exímio pianista do samba-jazz que desapareceu em Buenos Aires em 1976, depois de ter atuado com Vinicius de Moraes na cidade argentina.

Trueba, que venceu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1994 com "Sedução", descobriu a história de Tenorio Jr. em 2004 e entrevistou artistas e amigos que o conheciam, até ter a ideia de produzir um documentário em animação sobre o caso.

O resultado é uma combinação de "música, história, política e memória", afirmou o realizador este sábado, após a exibição no festival.

Tudo indica que Tenório foi sequestrado por agentes do Estado, quando ia comprar uma sanduíche depois de um concerto.

Por pouco mais que a sua aparência esquerdista, foi torturado na Escola Mecânica da Marinha (Esma) e assassinado pelo soldado Alfredo Astiz, o "Anjo da Morte", para ocultar a sua prisão sem justificação.

Rio de Janeiro, Nova Iorque e Buenos Aires são os principais cenários deste filme que traz entrevistas com gigantes da música brasileira que conheceram Tenório, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Toquinho.

A produção faz parte da programação oficial do festival, mas ficou de fora da competição pela Concha de Ouro.

Polémicas

A violência também é tema em "No me llame Ternera", um documentário dedicado a Josu Ternera, pseudónimo policial de José Antonio Urrutikoetxea, líder da dissolvida organização separatista armada basca ETA, e que é associado a uma série de homicídios.

Em liberdade condicional enquanto o seu caso é julgado na França, o então líder, atualmente com 72 anos, reconhece alguns erros das ações da sua organização, que causou 853 mortes, mas não pede perdão às vítimas, como pode ser visto na produção cinematográfica.

O público de San Sebastián, cidade basca castigada pelos ataques da organização, é o primeiro a ver este filme que gerou críticas e pedidos para que fosse retirado da programação.

Numa conferência de imprensa este sábado, o jornalista Jordi Évole, um dos co-diretores do documentário, defendeu a produção.

"O interesse jornalístico de uma entrevista com um líder de uma organização terrorista é indiscutível", disse.

"Este país tem que saber olhar para o seu passado com coragem e sem medo. Dói, claro que dói, a história de todos os países dói" acrescentou, rejeitando que o filme tenha suavizado a carreira do nacionalista.

Entre os concorrentes na disputa pela Concha de Ouro, estão "Fingernails", filme dramático de ficção científica do cineasta grego Christos Nikou que conta com um elenco com Jessie Buckley, Riz Ahmed e Jeremy Allen White, além dos latino-americanos "Los Colonos", do realizador chileno Felipe Gálvez, e "Mano de Obra", do mexicano David Zonana, que narra a submissão de um jovem indígena à disciplina militar.