Jon Krakauer, que integrou como jornalista para a revista Outside a expedição ao Evereste de 1996 de que resultaram oito mortos, descreveu o filme "Evereste" como "totalmente treta".

"Qualquer pessoa que vá ver esse filme e queira um relato baseado em factos do que aconteceu deve ler "Into Thin Air"", numa referência ao livro que escreveu sobre a tragédia que se tornou um "best-seller".

No filme, Krakauer é representado por Michael Kelly, um ator mais recentemente reconhecido como o homem de confiança de Frank Underwood (Kevin Spacey) na série "House of Cards".

Na entrevista ao Los Angeles Times, o jornalista, agora com 61 anos, revela que várias conversas suas são fabricadas e revela estar especialmente irritado com uma cena em que a sua personagem recusa ajudar nas tentativas de salvamento após um pedido de um dos guias, Anatoli Boukreev (o ator Ingvar Eggert Sigurðsson).

"Nunca tive essa conversa. Anatoli foi a várias tendas e nem sequer os Sherpas [etnia que vive na região mais montanhosa do Nepal e se adapta com mais facilidade às suas condições extremas] podiam sair. Não estou a dizer que o podia fazer ou o faria. O que estou a dizer é que ninguém foi à minha tenda e perguntou."

O realizado Baltasar Kormákur respondeu a estas críticas num depoimento ao mesmo jornal, salientado que "a nossa intenção na cena da tenda que o senhor Krakauer menciona era ilustrar como as pessoas estavam desamparadas e por que razão não poderiam ter sido capazes de sair e salvar. Elas não eram mal-intecionadas, estavam desamparadas. Os argumentistas e eu tentámos ver as coisas de um ponto de vista justo sem escolher lados."

Diga-se que o livro "Into Thin Air" deu origem a um telefilme logo em 1997 agora esquecido, que também é renegado por Jon Krakauer.

"As pessoas disseram-me "Há filmes que nunca são feitos. Aceita o dinheiro. O que tens a perder?". Amaldiçoo-me por sequer ter vendido. O que aprendi do telefilme foi que os filmes usam liberdade dramática e quando se assina um documento, pode-se fazer o que se quiser comigo. Não valeu o dinheiro que ganhei."

No entanto, o jornalista aceita uma das ideias que ficam após o visionamento de "Evereste", a de que a sua presença e um potencial destaque numa grande revista podem ter levado Rob Hall, um dos líderes da expedição  (Jason Clarke no filme) a assumir mais riscos.

"Eles estavam a arriscar a tentar levar clientes ao cume porque eu estava lá."

Após regressar do Nepal e finalmente atingir toda a dimensão do que tinha acontecido, Jon Krakauer enfrentou um grave depressão e só uma década mais tarde, ao encontrar um grupo de veteranos do Exército para outro trabalho, percebeu que sofria transtorno de stress pós-traumático.

Nos últimos quatro anos, frequenta grupos de terapia e tem palavras duras para o que agora é descrito como o "turismo do Evereste".

"Evereste não é alpinismo a sério. São pessoas ricas a escalar. É um troféu na parede e está feito. Falo a sério quando digo que desejava nunca ter ido."

Krakauer teve ao menos uma boa experiência com Hollywood: a adaptação do seu livro "Into the Wild", sobre a expedição de Christopher McCandless no Alasca em que este morreu à fome, feita por Sean Penn  em 2007.

"Quando ele me mostrou a montagem em bruto, quis beijá-lo. Estava tão feliz."