A caminho dos
Óscares 2018
Certezas nunca há, mas há vitórias quase certas: Gary Oldman deverá ganhar o Óscar de Melhor Ator ("A Hora Mais Negra"), Frances McDormand o de Melhor Atriz ("Três Cartazes à Beira da Estrada") e os prémios secundários deverão ir para Sam Rockwell (também por "Três Cartazes à Beira da Estrada") e Allison Janney ("Eu, Tonya").
Se algum falhar será uma das maiores reviravoltas da história dos prémios da Academia: numa convergência que nunca se viu, o quarteto de atores ganhou os grandes prémios que interessam — Critics’ Choice, Globos de Ouro, Screen Ators Guild e BAFTA.
A 90ª edição dos Óscares acontece esta noite (começa quando for uma da manhã de segunda-feira em Portugal continental) e não se sabe se as estrelas voltarão a optar pelo preto, como aconteceu nas passadeiras vermelhas dos Globos de Ouro e dos BAFTA, mas não faltarão seguramente referências aos movimentos #MeToo e Time's Up, que abalaram a indústria, destapando décadas de assédios e outros abusos sexuais.
#MeToo e Time's Up
O apoio à luta não será um "fantasma" na cerimónia, tanto mais que uma das anunciadas apresentadoras das estatuetas é Ashley Judd, que deixou há muito tempo de aparecer em filmes que surgem na corrida a prémios mas ajudou a deitar abaixo o produtor Harvey Weinstein ao dar a cara na reportagem do The New York Times de 5 de outubro do ano passado.
Por seu lado, Jimmy Kimmel, a regressar como anfitrião, terá obrigatoriamente de abordar o tema no seu monólogo inicial para que o resto da noite cumpra a tradição: celebrar o melhor cinema do ano passado.
Ao New York Times, um dos jornais que noticiou denúncias de várias mulheres, a produtora Jennifer Todd disse que os Óscares devem ser entendidos como "um espectáculo" "respeitoso, mas também divertido e emocional".
"Queremos honrar e respeitar [o projeto] Time's Up e permitir que a mensagem seja escutada", afirmou ao mesmo jornal Channing Dungey, presidente da cadeia de televisão ABC - que assegura a transmissão televisiva -, sublinhando que esses momentos não podem ofuscar os artistas e os filmes premiados.
Uma cerimónia de incertezas
No programa da cerimónia fazem parte muitas categorias em que, tal como as de interpretação, o desfecho é mais previsível, mas também umas quantas onde o suspense irá durar mesmo até à abertura do envelope (correto, espera-se).
Entre as primeiras está Melhor Realização: após Alfonso Cuarón e Alejandro González Iñárritu, deverá chegar a vez de Guillermo del Toro, o últimos dos "três amigos" mexicanos e o que mais assume a essência do seu país, ganhar a estatueta.
O filme, claro, é "A Forma da Água", que lidera a corrida com 13 nomeações e é provável que também tenha garantidas as categorias de Direção Artística e Banda Sonora.
Tudo indica que teremos um palmarés diversificado: além dos dois Óscares de "Três Cartazes à Beira da Estrada" e um para "Eu, Tonya", parece inevitável que o trabalho de caracterização que transformou Gary Oldman em Winston Churchill seja o segundo Óscar de "A Hora Mais Negra".
Do que ninguém tem dúvidas é de que "Coco" será o Melhor Filme de Animação, mais um prémio para a Disney-Pixar. Para "Dunkirk" devem estar garantidas as categorias de Efeitos Sonoros e Mistura de Som, e "Linha Fantasma" deverá ser distinguido por uma das suas grandes estrelas, o Guarda-Roupa. Kobe Bryant, além de lenda dos Los Angeles Lakers, poderá ser um vencedor de Óscar com a curta de animação "Dear Basketball", e é pouco provável que James Ivory não faça história, tornando-se, aos 89 anos, o mais veterano a receber o Óscar, pelo argumento adaptado de "Chama-me Pelo Teu Nome".
A abertura dos envelopes responderá a algumas perguntas que têm animado os fãs de cinema e principalmente os apaixonados pelos Óscares. A maior de todas é quem ganha o Óscar de Melhor Argumento Original: "Amor de Improviso" tem a honra de "estar nomeado", mas de resto tudo parece muito dividido entre "Foge", "A Forma da Água", "Lady Bird" e "Três Cartazes à Beira da Estrada". Estará nesta categoria a pista mais segura para o último prémio da noite?
A seguir, a Melhor Fotografia: após 14 nomeações, será finalmente a hora de Roger Deakins ganhar com "Blade Runner 2049"? Ou haverá a tentação de escolher Rachel Morrison por "Mudbound", a primeira mulher nomeada na categoria... em 90 anos?
E "Dunkirk" tem mesmo garantida a vitória na Montagem ou haverá uma ultrapassagem de "Baby Driver"? "Blade Runner 2049" ganha Efeitos Visuais ou finalmente será recompensado um filme da saga "Planeta dos Macacos"? Melhor canção: "Remember Me" ("Coco") ou "This Is Me" ("O Grande Showman")?
Para Melhor Filme Estrangeiro, os analistas dizem que "The Insult", do Líbano, tem ligeiro favoritismo, mas esta é uma categoria que raramente corre como se espera: poderá ser "O Quadrado", da Suécia, ou "Uma Mulher Fantástica", do Chile? Ou, questões políticas à parte, o russo "Loveless - Sem Amor"? E "Icarus" será o Melhor Documentário ou Agnès Varda, depois do prémio honorário em novembro, será a segunda premiada da noite com 89 anos por "Olhares Lugares" (partilhado com JR)? Ou terá mais votos a primeira nomeação para a Síria, "Last Men in Aleppo"?
Quanto ao Melhor Filme, esta é a corrida mais disputada desde 1999, quando não se sabia se seria "A Paixão de Shakespeare" ou "O Resgate do Soldado Ryan".
O favorito é "A Forma da Água", pelas 13 nomeações que tem e por outros prémios que já ganhou, mas como se viu com "La La Land" (14 nomeações) e "The Revenant" (12), a Academia está a mudar com a entrada de novos membros e a tradição já não é o que era.
Ao fim destas semanas todas, não há um consenso claro e a sensação geral é que cinco dos nove nomeados têm argumentos para ganhar e uma vez que esta é a única categoria onde os votantes devem alinhar os nomeados por ordem de preferência e há transferência de boletins à medida que os menos votados vão sendo eliminados até se chegar a um "consenso", pode muito bem ser...
E o Óscar vai para... "A Forma da Água"!
Tem 13 nomeações, o que indica um vasto apoio entre todos os grupos da Academia. Vai ganhar Realização e vários prémios técnicos. E foi o vencedor dos prémios dos fortíssimos sindicatos dos produtores e realizadores. E é uma carta de amor ao cinema.
E o Óscar vai para... "Três Cartazes à Beira da Estrada"!
Sim, Martin McDonagh falhou a importantíssima nomeação para Melhor Realização. E o filme tem gerado controvérsia por alegadamente "redimir" uma personagem racista". Por outro lado, terá um apoio fortíssimo entre os atores, que vão premiar Frances McDormand e Sam Rockwell, mas antes nomearam também Woody Harrelson. E o tema é importante e atual numa América em que o presidente é Donald Trump.
E o Óscar vai para... "Foge"!
Se os dois filmes anteriores recolherem mais votos em primeiro lugar nos boletins, há quem diga que este pode ser o que tira mais vantagem do sistema do voto preferencial se estiver em segundo ou terceiro em muito mais listas. Foi um grande sucesso comercial e apesar de ter estreado há um ano, nas últimas semanas o estúdio não poupou esforços para recordar os seus méritos artísticos aos votantes. O tema também é importante: o racismo latente na sociedade americana. E não devia contar, mas o realizador Jordan Peele é negro.
E o Óscar vai para... "Dunkirk"!
Nenhum ator foi nomeado nem o argumento: a última vez que houve um Óscar de Melhor Filme nestas condições foi há 85 anos. Mas representa algo que Hollywood gostaria de repetir mais vezes: um blockbuster que aposta num tema "sério" e tem sucesso comercial. E consta que tem muito apoio entre os técnicos, principalmente em Los Angeles. Tal como "Foge", pode beneficiar do sistema de votos preferenciais.
E o Óscar vai para... "Lady Bird"!
O filme parece não ter anti-corpos: quase todos o admiram. Também tem apoio entre os atores, que nomearam Saoirse Ronan e Laurie Metcalf. E também não prejudica Greta Gerwig ser apenas a quinta mulher nomeada como realizadora. Que pode ganhar no argumento original. E tudo isto conta ainda mais na era dos movimentos #MeToo e Time's Up.
Apresentadores
A Academia antecipou os nomes de algumas das estrelas que vão estar em palco a abrir envelopes e a entregar estatuetas no Dolby Theatre e viu o TMZ conseguir revelar a 72 horas da cerimónia a maior "surpresa": um ano após estarem no epicentro da maior gaffe da história, quando uma troca de envelopes os levou a anunciar como vencedor "La La Land" em vez de "Moonlight", Warren Beatty e Faye Dunaway foram convidados para voltar a apresentar o Óscar de Melhor Filme.
Além de Ashley Judd, a lista é eclética, juntando lendas, vencedores de Óscares e protagonistas dos maiores sucessos de bilheteira, principalmente das sagas Marvel, DC Comics e "Star Wars", mas também tendo a preocupação de ter mais diversidade racial, com convites a Wes Studi (o vilão de "Os Últimos Moicanos"), Gina Rodriguez (da série "Virgem Jane" e do filme "Aniquilação") e Eugenio Derbez (protagonista do fenómeno "How to Be a Latin Lover").
Regressam Emma Stone, Viola Davis e Mahershala Ali, os vencedores das categorias de interpretação do ano passado, cumprindo a tradição de "passar" a honra a novos colegas. Falha Casey Affleck, distinguido com o Óscar de Melhor Ator, que tem várias acusações de assédio sexual contra si e comunicou à Academia a sua indisponibilidade, oficialmente para não desviar as atenções da cerimónia e dos filmes homenageados.
Entre as lendas estão Jane Fonda, Rita Moreno e Christopher Walken, além de Eva Marie Saint (vencedora do Óscar por "Há Lodo no Cais"), que, com 93 anos, será a atriz com mais idade em palco na história das cerimónias. E aos também antigos premiados Matthew McConaughey, Nicole Kidman, Sandra Bullock, Helen Mirren, Lupita Nyong'o e Jodie Foster juntam-se alguns nomeados deste ano: Margot Robbie (Melhor Atriz por "Eu, Tonya"), Greta Gerwig (argumentista e realizadora de "Lady Bird) e Kumail Nanjiani (nomeado pelo argumento de "Amor de Improviso).
Outras presenças garantidas são as de Armie Hammer ("Chama-me Pelo Teu Nome"), Daniela Vega (em representação de "Uma Mulher Fantástica", nomeado para Melhor Filme Estrangeiro) e e Jennifer Garner (discreta no cinema mas que fez parte do elenco dos vencedores de Óscares "Juno" e "O Clube de Dallas").
Dos musicais surgem Zendaya ("O Grande Showman") e a antecipar o regresso de "Mary Poppins" no Natal estão Emily Blunt e Lin-Manuel Miranda (também o criador da peça "Hamilton" e nomeado para o ano passado pela canção de "Vaiana").
Os maiores sucessos comerciais também estão bem representados com Chadwick Boseman ("Black Panther"), Tom Holland ("Homem-Aranha: Regresso a Casa"), Gal Gadot ("Mulher-Maravilha") e muitos atores de "Star Wars": Mark Hamill, Oscar Isaac, Kelly Marie Tran e Laura Dern.
Entre os novos valores, surgem Ansel Elgort e Eiza Gonzalez ("Baby Driver") e Tiffany Haddish (a grande revelação de "Girls Trip", que não estreou nos cinemas portugueses).
Mary J. Blige ("Mudbound - As Lamas do Mississípi"), Common e Andra Day ("Marshall"), Gael García Bernal, Lafourcade e Miguel ("Coco"), Sufjan Stevens ("Chama-me Pelo Teu Nome") e Keala Settle ("O Grande Showman") também estão confirmados para interpretar as canções nomeadas.
Primeiras vezes e nomes portugueses
Este ano, dois canadianos de origem portuguesa podem sair com uma estatueta dourada: Luís Sequeira (guarda-roupa) e Nelson Ferreira (montagem de som) estão nomeados pelo filme "A Forma da Água".
É a primeira vez que um filme sírio está nomeado para os Óscares, com o documentário "Last men in Aleppo", de Feras Fayyad e Soren Steen Jespersen, sobre os Capacetes Brancos, força civil síria que já salvou quase 100 mil pessoas no conflito na Síria e que foi objeto da curta documental vencedora do Óscar do ano passado para essa categoria.
O realizador Jordan Peele é o primeiro afroamericano a ser nomeado em simultâneo para melhor filme, realização e argumento original, com "Foge". Também é a primeira vez que uma mulher está nomeada para o Óscar de melhor fotografia, com Rachel Morrison pelo filme "Mudbound - As lamas do Mississipi".
Onde ver a cerimónia em Portugal
A noite das estrelas do cinema arranca em Portugal às 22h00, com um especial do canal E! Entertainment em direto da passadeira vermelha dos Óscares. Ryan Seacrest e Giuliana Rancic vão acompanhar a chegada dos nomeados e dos convidados ao Dolby Theatre.
O desfile das celebridades também pode ser acompanhado a partir das 23h00 na SIC, que pelo quarto ano consecutivo será o canal dos Óscares, transmitindo a cerimónia a partir da uma da manhã.
O SAPO Mag também vai ficar acordado pela madrugada dentro, com comentários ao minuto, da red carpet à cerimónia, com um live blog que terá início pelas 22h00.
Saiba mais sobre os Óscares no especial A Caminho dos Óscares do SAPO Mag.
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