"Árctico" (assim mesmo, não seguindo o acordo ortográfico) é uma história de sobrevivência com o estóico e engenhoso Mads Mikkelsen.
Realizado pelo estreante Joe Penna, outrora estrela do YouTube, o filme relembra "127 Horas", de Danny Boyle, e "Quando Tudo Está Perdido", com Robert Redford, onde assistimos à superação e crença de um homem, acreditando sempre que o seu fim está próximo mas sem nunca desistir.
Despenhado na desolação gélida do Ártico, a personagem, de quem nada sabemos e presumimos que se chame Overgard, tem a sua rotina cronometrada: o alarme do relógio toca e este espreita os buracos onde pesca; toca e sobe uma colina para procurar comunicar com alguém que ali passe perto; toca e vai limpar o gelo do grande SOS que raspou no chão; toca e vai compor o monte de pedras de uma campa.
O instinto de sobrevivência transborda e a resiliência vale por ele, por nós e por uma piloto (María Thelma Smáradóttir) que também se despenha e se torna sua responsabilidade.
Overgard tem então de escolher: ficar no seu reduto aguardando ajuda ou partir em busca de salvação até um abrigo indicado no mapa. Com a sobrevivente às costas e um urso polar à espreita.
Neste ambiente, os obstáculos são vulgares e temos de ignorar algumas leis da física e da biologia para nos dispormos a acreditar na força e resistência dos dois sobreviventes.
Mas Penna sabe que, na vastidão, tudo tem tendência a piorar. E recorrendo à intensidade do silêncio, pontuado por murmúrios, imagens de isolamento que podiam estar num documentário de Werner Herzog, e dor excruciante em situações de sofrimento inesperado, consegue manter o ritmo do palpitante no limite.
A ajudar a sensação de iminência da desgraça está a excelente escolha de "casting": é cru e desesperante ver uma figura como Mads Mikkelsen numa situação de tamanha gravidade.
O actor dinamarquês de registo austero, impenetrável, que tanto consegue ser primal como astuto e de uma coragem gélida, o que faz por contraponto com que os seus gritos de angústia e quase desistência quen os atingem como uma lança de gelo no coração.
Se ele não consegue, onde estaremos nós? Talvez em posição fetal a chorar no interior de uma gruta, à espera de ser pequeno almoço de um urso polar...
"Árctico": nos cinemas a 6 de junho.
Crítica: Daniel Antero
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