Carga
A HISTÓRIA: Viktoriya é uma jovem russa apanhada numa rede de tráfico ilegal que apenas tem uma hipótese: lutar para sobreviver. António é um velho camionista que se cruza no caminho da jovem, despoletando um encontro que o leva a questionar todos os seus princípios.
"Carga" está disponível na HBO Portugal.
Crítica: Hugo Gomes
Aquilo que fascina em "Carga" é a sua procura por um espaço na indústria cinematográfica nacional, sabendo nós que o panorama é demasiado pequeno para ser chamado de “indústria”. E mais do que nos torturar em reflexões do "arco da velha", o dito confronto de comercial português e o decretado cinema de autor, o realizador Bruno Gascon faz um filme-pedagógico sobre as temáticas do tráfico humano.
Por dentro dos moralismos demagógicos e do panfleto escancarado, que nunca se atenua numa previsível camuflagem, "Carga" é uma primeira obra que respira pretensão em romper as barreiras limitadas da nossa “pequenez” e em ostentar o requinte visual (uma atmosfera conseguida com graça e bênção da fotografia de Jp Caldeano) e sonoro com aroma de “grande produção”.
Claro que estas virtudes de “verdes anos” desvendam as habituais malhas de "maçarico", seja a banda sonora demasiado intrusiva na emoção depositada nas imagens (existe um plano-sequência protagoniza por Sara Sampaio que merece respeito), seja o tratamento de algumas figuras desta teia narrativa espelhada que nunca ousa em sair do mero arquétipo figurativo.
Portanto, em Bruno Gascon nota-se o esforço quase hercúleo em, sozinho, colocar uma primeira pedra de uma projetada e solida definição industrial, que dará origens a outras propostas em português que se emancipam dos costumes de solipsismo e de umbiguismo cinematográfico.
Acima de um mero filme para passar o serão, "Carga" é um aperitivo ornamentado que nos deixa num tremendo suspense para perceber em que realizador este Bruno Gascon se converterá num futuro próximo.
"Carga": estreou nos cinemas a 8 de novembro de 2018.
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