6 Dias
A 30 de abril de 1980, a embaixada iraniana em Londres é invadida por seis membros da Frente Revolucionária Democrática para a Libertação do Arabistão. Fazem 26 reféns no seu interior e apresentam as suas exigências, mas são logo confrontados com a resiliência da primeira-ministra Margaret Thatcher, as negociações entre o seu governo e a Liga Árabe, e a vontade do Reino Unido mostrar ao mundo como lidaria com terroristas.
"6 Dias" é o novo filme de Toa Fraser, uma espécie de docudrama que intercala "footage" real com as cinco forças envolvidas no processo, desvendando os bastidores e a tensão até à entrada dos serviços especiais britânicos na embaixada, para libertar os reféns.
Entre estas forças, temos Mark Strong, sólido e autoritário na serenidade, mantendo o equilíbrio emocional de todos os envolvidos, no papel de Max Vernon, negociador com os terroristas, que procura tardar o despoletar de um rastilho curto. O seu interlocutor do outro lado do telefone é Ben Turner, no papel de Salim, a criar empatia para a sua investida.
Já Abbie Cornish é Katie Adie, a jornalista da BBC que fez história com a cobertura deste evento, descrevendo todos os momentos enquanto estava escondida atrás de um carro. O sotaque de Cornish é flutuante e a sua voz jornalística demasiado assertiva é inverossímil... para quem está prestes a assistir a um iminente massacre.
No outro extremo temos Jamie Bell, que interpreta Rusty Firmin, o militar que liderou a Operação Nimrod e as suas constantes interrupções e mudanças de planos. Com um registo musculado, desafiador e aguçado, Bell é como o olhar do espectador, que impaciente se esquece que este filme é baseado em factos reais e quer partir para a acção.
Para além do interior da embaixada, há ainda espaço para o quinto elemento: as negociações políticas que ocorrem em Whitehall entre as várias frentes de poder britânicas. Esta é uma das características mais audazes do filme pois coloca-nos no papel dos governantes, permitindo-nos ter tempo para escolher qual seria a nossa decisão.
Com pouco interesse nos terroristas, não revelando as suas intenções em detalhe, o guião avança entre as tiradas de Katie Adie ou dos restantes pivots de televisão. Sobrepõe as suas vozes a imagens de eventos-chave, desenvolvendo a ação entre as negociações de Vernon e as forças especiais que, a qualquer momento, retornam à base para treinar nova forma de enfrentar os terroristas.
A tensão conflui de vários pontos. Os media pressionam: “if it bleeds, it leads”... os superiores de Vernon marcam posição para que este ceda a qualquer pedido dos terroristas, mentindo… e o tempo escasseia para os serviços especiais se prepararem. Quando o “alarme dispara”, o conflito ganha novos contornos: Thatcher não quer fumo ou bloqueios à imagem televisiva... Inglaterra deve assistir à força dos seus.
E aqui, ao sexto dia, no terceiro ato, ocorre o raide, longe do estilo de um "thriller" na linha dos realizadores Kathryn Bigelow ou Paul Greengrass… clareza de ação e pontuação de eventos colocam este momento num registo (quase) metódico e educativo.
Apesar de apresentado como filme de ação, "6 Dias" tem mais o ritmo de um filme de espionagem, onde vemos uma versão do enquadramento geral de um evento histórico que colocou em riste duas fações, suportado pelo sofrimento e indecisões dos seus intervenientes.
Crítica: Daniel Antero
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