A HISTÓRIA: Passados 25 anos, desde que uma onda de assassinatos brutais chocou a tranquila localidade de Woodsboro, um novo assassino toma o lugar de Ghostface e começa a perseguir um grupo de jovens para desenterrar segredos do passado sombrio da cidade.

"Gritos": nos cinemas a partir de 20 de janeiro.


Crítica: Daniel Antero

Sim, este novo filme da franquia “Gritos” tem o mesmo nome do original de 1996, concebido pela lenda do horror Wes Craven. Porquê? Porque na senda recente de renovar franchises a todo o custo para uma audiência com “memória Google”, onde figuram exemplos como "Halloween" ou "Candyman", esta icónica saga 'slasher' vê as suas quatro iterações desmembradas e assembladas num novo ser: uma “requel”.

Para os fãs acutilantes passará a ser apelidado de "Gritos 5," mas como nos diz uma personagem dentro do próprio filme, esta é uma combinação de sequela com 'remake', onde rostos históricos - Dewey Riley (David Arquette), Sidney Prescott (Neve Campbell) e Gale Riley (Courteney Cox) - são colocados lado a lado com protagonistas mais jovens - Sam Carpenter (Melissa Barrera), Richie Kirsch (Jack Quaid), entre outros - e refazem a narrativa da primeira versão. Que como se recordam, acompanha um grupo de adolescentes amantes de filmes de horror num jogo mortífero com um assassino chamado Ghostface.

Retornamos assim à cidade de Woodsboro, onde revivemos momentos clássicos como a chamada telefónica que desencadeia o ataque de abertura, a música “Red Right Hand” de Nick Cave e a sua carga ominosa, a recriação da casa de um personagem infame…

Para ser ainda mais meta, não fosse esta série de filmes conhecida pela sua capacidade satírica, cheia de auto-reflexões, comentários e articulações internas com as regras dos filmes de horror, os realizadores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett colocam os personagens do filme a 'elevar' filmes como "O Senhor Babadook" (2014), "A Bruxa: A Lenda de New-England" (2015) e "Vai Seguir-te" (2015) e a gozar com uma fictícia franquia de nome “Stab” ... muito similar ao próprio “Gritos”.

Por isso, não nos admiremos quando virmos Mindy (Jasmin Savoy Brown), sentadinha no seu sofá, a ser abordada por Ghostface, enquanto vê na televisão uma personagem, sentadinha no seu sofá, a ser abordada por Ghostface. É melhor olhar para trás.

Como se vê, este filme é um ouroboros, uma “pescadinha de rabo na boca”, enamorado da sua própria mitologia, no qual os realizadores não se levam a sério e procuram equilibrar um enorme tributo a Wes Craven com momentos de diversão. Mas esse realizador, falecido em 2015, tinha uma sensibilidade perversa de desconstruir convenções sem diminuir o seu impacto, enquanto esta nova dupla se fica pela imitação pálida, onde nem mesmo os momentos mais sanguinolentos são devidamente aproveitados. À exceção do terceiro ato do filme, que valoriza o bilhete de cinema se a sala estiver cheia.

Se não nos importarmos com a falta de consistência narrativa, o constante debitar de nomes, as revelações golpeadas, e que os fãs tóxicos exijam que as sequelas dos seus filmes preferidos sejam tal e qual como pretendiam, vamo-nos divertir e estar a jogar este jogo. Como assim pretende o próprio Ghostface...