Em 2008, terroristas do grupo Lashkar-e-Taiba atacaram Mumbai (Bombaim) durante quatro dias, espalhando caos por vários locais emblemáticos da cidade e causando a morte de 174 pessoas.

Para a narrativa de "Hotel Mumbai", o realizador Anthony Maras compõe um drama/suspense a partir do horror real daquele mês de novembro e foca-se nos eventos do cerco ao luxuoso hotel Taj Mahal Palace & Tower Hotel.

Na sua primeira longa-metragem, diversifica pontos de vista, mantendo com pulso firme, a tensão entrelaçada entre várias narrativas. Com uma introdução forte, acompanhada de uma banda sonora ominosa que pauta cenas triviais, dá-nos a conhecer várias personagens, marcando o ritmo interpolado, recolhendo o âmago emotivo do filme antes dos ataques.

Com o lema “O cliente é Deus” na mente, Dev Patel e Anupam Kher são os heróicos funcionários do hotel que tudo farão para proteger os seus clientes. Entre eles, Nazanin Boniadi e Armie Hammer, um casal que deixa o seu bebé recém nascido com a ama; Jason Isaacs no papel de um poderoso russo, pronto para passar a noite com "escorts" locais; e um casal de "backpackers" australiano que se separa durante o ataque.

E também os terroristas, a quem Maras dá imenso tempo de ecrã, com cenas onde não há música a acompanhar e impera o som das balas que nos atravessam a espinha.

A confusão espacial, o sufoco e o pânico estão sempre no limite, mas Maras encontra sempre um refúgio para nos voltar a focar, quebrando o ritmo sôfrego através de um telefonema emotivo, de um abraço aflito ou das imagens noticiosas reais que o povo acompanha pela televisão.

São vários os minutos de carnificina, onde os terroristas avançam sem clemência, com uma frieza que nos agoniza o estômago. Algo que levou a Nova Zelândia a proibir a exibição deste "Hotel Mumbai" após os ataques às mesquitas de Christchurch.

Com a cinematografia em registo documental e a montagem a compor a claustrofobia do espaço e do tempo, este é daqueles filmes em que nos questionamos sobre a ética e a exploração de algo tão doloroso, que aconteceu há tão pouco tempo. Dependerá da tolerância de cada um.

Mas em relação ao registo de realização de Anthony Maras, temos curiosidade e entusiasmo com o que virá a seguir a "Hotel Mumbai".

"Hotel Mumbai": nos cinemas a 23 de maio.

Crítica: Daniel Antero

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