A HISTÓRIA: Muriel fica emocionada ao ver Alex, o seu neto, que veio passar alguns dias a casa dela, antes de ir morar para o Canadá. Intrigada com o comportamento do neto, rapidamente descobre que há toda uma realidade que ela desconhece. Desesperada com as possíveis consequências das acções de Alex, Muriel terá de agir muito rapidamente, antes que seja tarde demais.

"O Adeus à Noite": nos cinemas a 6 de agosto.


Crítica: Hugo Gomes

Já traçávamos este percurso em André Téchiné. O que foi em tempos um dos cineastas franceses cimeiros da nossa atualidade (saído da segunda vaga de críticos da publicação francesa da "Cahiers du Cinema"), parece convertido num anónimo tarefeiro com visível experiência.

“O Adeus à Noite”, é exatamente isso, uma produção competente com a entrega esperada da sua atriz-fetiche – Catherine Deneuve – que remexe em temáticas cada vez mais focadas pelos autores francófonos (o fundamentalismo islâmico que anteriormente os irmãos Dardenne abordaram no seu, ainda inédito em Portugal, “O Jovem Ahmed”).

Apesar do tema, Téchiné encontra-se mais interessado em delinear fragmentadas relações afetivas, tendo como dispositivo uma avó (Deneuve), de avantajadas posses, e o seu regressado neto (Kacey Mottet Klein) que evidencia uma fé distinta. O recém-convertido ao Islamismo colocará em xeque os sentimentos inabaláveis da emancipadora anciã.

“O Adeus à Noite” tende em seguir esse lado mais intimista incentivado pela “infiltrada” estranheza, sendo que o aparato técnico do filme é de uma moagem deslavada. Tudo tão despersonalizado, apenas sobressaindo dessa assinatura enfraquecida o empenho de Catherine Deneuve, que, diga-se, carrega toda a vertente dramática. Porque falando em drama, o que está obviamente associado ao tema surge estampado sem qualquer profundidade teológica, com todo o Islamismo envolvido a corresponder aos vendidos sinais de medo.

Talvez seja isso mesmo: a nossa indignação advém do facto de estarmos a ver um filme de André Téchiné sem efeito algum, vindo de um autor que nos deu, e possivelmente redefiniu, a imagem central e duradoira do dito cinema autoral francês. O que fez com o agressivo poema “Encontro” (datado de 1985, que lhe valeu o Prémio de Realização no Festival de Cannes, para além de nos ter apresentado Juliette Binoche) e, a partir daí e com alguns destaques pontuais (“Os Juncos Selvagens”, “Os Tempos que Mudam” e a proximidade afetiva de “Quando Se Tem 17 Anos”), parece somente estar a sobreviver à custa do estatuto adquirido.