Em 1974, Daniel Lang publicou o artigo “The Bank Drama”, no New Yorker.

Esta narrativa descrevia um assalto de contornos absurdos: o assaltante usou um disfarce ridículo, cantou e fez os polícias cantar com ele, teve relações sexuais com um dos reféns no cofre do banco e... falou diretamente com o Primeiro-Ministro da Suécia ao telefone.

A publicação contava os eventos reais do assalto ao Sveriges Kreditbank em Estocolmo, ocorrido em 1973, onde Jan-Erik Olsson e Clark Olofsson fizeram quatro reféns durante seis dias.

Na livre adaptação cinematográfica do artigo de Lang, o realizador canadiano Robert Budreau compõe à superfície um "thriller" cómico de contornos negros, mas no interior está, na verdade, a explorar a dimensão psicológica, distorcida, da relação subversiva entre o raptor Lars Nystrom (Ethan Hawke) e a funcionária do banco Bianca (Noomi Rapace).

Para tal, narra a negociação entre a polícia sueca e os raptores lars Nystrom e Gunnar Sorensson (poderoso e ambíguo Mark Strong), onde vai decorrendo um jogo do gato e do rato.

As exigências de Lars são caricatas, saídas da sua paixão pela iconografia do cinema americano - fã de Bob Dylan e do filme "Easy Rider", quer um Ford Mustang igual ao do Steve Mcqueen em "Bullit" - mas o "Chief" Mattson (Christopher Heyerdahl em excelente plano) não tem muita paciência e parece mais interessado em enlouquecer Lars do que em salvar os reféns, escondidos no interior do cofre do banco.

A personagem de Ethan Hawke é volátil e hiperativa, balançando entre assustador e ternurento, entre ridículo e cativante. E é isso que entusiasma a conservadora e tímida Bianca, que revoltada pela inércia da polícia e do governo, acaba por ter aqui um novo nascimento, onde a sua bravura surpreende todos os envolvidos, levando a uma relação de colaboração, admiração e possivelmente amor.

Mesmo com a fascinante ideia do medo e da ameaça surgirem das forças policiais e não dos criminosos em si, estas duas linhas narrativas acabam por se quebrar uma à outra, anulando a tensão e o suspense, num pára-arranca final consciente, onde mesmo a personagem de Mark Strong grita que nunca se deve voltar atrás...

Influenciado por "Um Dia de Cão" (1975) e "Cães Danados" (1992), Robert Budreau deixa Ethan Hawke à solta, que com uma performance enervante e cómica, esclarece o porquê de existir o Síndrome de Estocolmo.

"Síndrome de Estocolmo": nos cinemas a 8 de agosto.

Crítica: Daniel Antero

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