Com dois vocalistas (Luís Dentinho e Ana Costa), dois guitarristas (Alex Gomes e Luís Fialho), um teclista (Miguel Campos), um baterista (Sérgio Pires) e um baixista (Tomás Marques), os Human Chalice já actuaram junto de grandes nomes do reggae, como Gentleman, Alborosie e Richie Spice.
O grupo lançou recentemente um novo single, Homem do Povo, e prepara-se para actuar no Festival Sudoeste TMN. Para o futuro, ficam os planos para um primeiro álbum. O Palco Principal conversou com a banda destaque desta quinzena.
Palco Principal - Como formaram a vossa banda?
Miguel Campos – Foi formada por mim e pelo vocalista [Luís Viana], em 2007, como uma brincadeira, em que podíamos tocar a música de que gostávamos, fazer covers de grupos que de gostamos, tipo Bob Marley. Depois, passámos para uma coisa mais séria.
PP – É verdade que a vossa banda começou a partir da Internet?
Alex Gomes – Sim, conhecemo-nos pela Internet.
PP – Vocês utilizam muito as redes socias?
MC – Sim, tentamos fazê-lo. Hoje em dia, sem as redes socias perdemos um grande veículo de comunicação que nos faz chegar às pessoas.
PP – As vossas músicas são todas cantadas em português, nunca ficaram tentados a cantar em inglês?
AG – No início do projecto chegámos a cantar algumas músicas em inglês. Quando ganhámos alguma consistência e um estilo próprio, decidimos que era mais coerente da nossa parte tentar atingir o público português, cantando na nossa língua.
PP – Mas se cantassem em inglês, se calhar, podiam ter mais notoriedade...
AG – Dentro de Portugal acho que isso não seria necessário. Faz mais sentido cantar em português, até porque nos importamos bastante com as letras. Como esperamos sempre crescer, não excluímos a ideia de, futuramente, cantar em inglês.
PP – Que mensagem é que pretendem passar através das vossas músicas?
AG – A mensagem vai sempre evoluindo, ganhando consistência, mas é sempre positiva. Transmite a ideia de tentar ajudar quem está perdido. Muitas vezes os jovens têm dificuldade em encontrar um caminho e tentamos, de alguma forma, ajudá-los a encontrar esse caminho com ideias positivas.
PP – Então, é um bocado a filosofia do reggae?
AG – Sim, mas sem cair no estereótipo, nas ideias de Jamaica, África e coisas assim. Tentamos dar uma ideia muito voltada para o público português e mesmo para a nossa realidade.
MC – Para o dia-a-dia. Para serem felizes e verem a vida de uma forma positiva.
PP – Preferem actuar em concertos mais pequenos ou em festivais?
AG – Eu, particularmente, gosto de tocar em palcos grandes, para um público maior. É engraçado porque eu sinto-me mais à vontade com públicos grande, do que quando a audiência é mais pequena e fica algo mais intimo, que parece mais complicado. Apesar de ser uma partilha especial, sinto mais nervosismo.
MC – Mas, às vezes, ao tocar em palcos mais pequenos há sensações que não temos num palco grande. Quando vamos tocar num palco grande, não somos os únicos e as pessoas estão sempre à espera do próximo artista, enquanto nos vão embalando com palmas. Em palcos pequenos são apenas uma ou duas bandas, logo sentimos mais calor e apoio.
PP – Já dividiram o palco com artistas como Gentleman, Alborosie e Richie Spice. Como é que é pisar o mesmo palco destes artistas?
MC – É bom para o curriculum, para vermos estrelas a tocar, para aprenderemos. É bom pisarmos o palco com eles.
AG – A ideia de estarmos em cima do mesmo palco, que, antigamente, só víamos de baixo, é incrível.
MC – O concerto que demos no Coliseu do Porto representa um grande marco na nossa vida, pelo menos para mim, que pude realizar o sonho de tocar no Coliseu, com 16 anos.
PP – Este ano é a primeira vez que vão ao Sudoeste...
AG – Sim. Queríamos tocar no Sudoeste já há bastante tempo, mas desta vez vamos, de facto, marcar presença e tentar conquistar o público e sair um pouco da zona Norte, à qual acabamos por estar um bocado presos. Temos que abranger outras áreas.
PP – Têm esperança que um concerto destes vos dê mais notoriedade?
MC – É um público completamente diferente daquele que estamos habituados a ter, mas se corre bem no Porto, por que é que não pode correr bem no Sul? Já tocámos em Lisboa uma ou duas vezes e correu bem. Sentimos que, se tivéssemos mais gente a ver, melhor corria. Pode ser que o Sudoeste nos ajude a dar um pulinho e que comecemos a tocar mais noutras regiões do país.
PP – Até porque alguma editora pode ver-vos num desses festivais....
MC –Claro. Há muitas bandas que vão actuar ao Sudoeste e no dia seguinte vão assinar contrato. Além de ser bom para nós, como pessoas, em termos de experiência, é uma montra muito grande que abrange nomes conhecidos nacionais e internacionais.
PP - Quais são as bandas que mais vos influenciam?
MC – Nós somos sete elementos. Um gosta de reggae, outro de rock, outro gosta de hip-hop, é assim um conjunto de ideias que no fim acabam por confluir no reggae, mas provêm de muitos lados.
PP – Em 2007 lançaram um EP com cinco músicas...
MC – Isso foi o primeiro registo da banda, foi uma coisa um bocado caseira e feita em cima do joelho. Depois já gravámos dois singles de seguida e este ano já gravámos um novo single, que já está disponível nas lojas FNAC. Esperamos gravar um disco para o ano.
PP – Qual tem sido a reacção das pessoas ao vosso novo single, Homem do Povo?
MC – O single saiu há duas semanas. Tivemos quase três mil ouvintes na primeira semana, o que é bom. Acho que se nota uma evolução da banda, também por causa do novo elemento, o Sérgio.
PP – Então, este single é uma forma de começarem de novo?
MC – Sim. É também uma redefinição do nosso estilo. Ainda estamos a ver qual o melhor caminho para nós. Experimentar sons diferentes, perceber quais são as nossas batidas... Estamos nesta fase.
PP – O facto de terem concertos agendados para as lojas FNAC pode ajudar-vos?
MC – Claro. A nossa esperança é que, ao fazermos esse circuito pela lojas, as pessoas fiquem tentadas a comprar o disco "Novos Talentos da FNAC" e que para o ano comprem o nosso álbum. Antes, várias pessoas perguntavam-nos onde é que podiam comprar um disco nosso e nós não tínhamos nada para mostrar. Agora já temos alguma coisa para mostrar.
PP – Acham que a vossa música traz algo de novo ao panorama musical nacional?
AG – Eu acho que, em termos de musicalidade, nós temos, claramente, uma identidade própria. Se compararmos as bandas de reggae nacionais com a nossa, vemos que não é mais do mesmo. A nossa ideia é não soar igual aos outros. Nas nossas músicas tentamos englobar assuntos que já foram abordados, mas de uma forma diferente, mais realista.
PP – Se calhar são diferentes exactamente por terem influências de vários estilos...
MC – Claro. É um conjunto muito grande de factores que faz com que isso aconteça. Uma pessoa tende também a definir um estilo, fugindo àquilo que se faz em Portugal. Tentamos fazer algo melhor e diferente para não sermos apenas mais uns.
PP – Quais são os planos dos Human Chalice para o futuro?
MC – Tocar, promover o novo single e pensar num álbum. Esta é uma meta a alcançar, mas, como cada vez menos apoiam a música portuguesa, está a revelar-se um bocado difícil apostarem em nós. Actualmente, tens de ter o teu próprio dinheiro para gravar umas músicas.
AG – A concorrência também é grande. Mas é com muito trabalho, com muita dedicação, que é possível chegar a algum lado dentro da música portuguesa.
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