"Já disse isto um milhão de vezes, mas vou dizê-lo outra vez: durante dez anos da minha vida, interpretei uma personagem que era literalmente a menos engraçada de todos os tempos, Jon Snow. Por isso, já não estou muito interessado em interpretar tipos solenes e heróicos. E o Henry não é de certeza nada disso. Acho que ele pensa que é heróico, mas não é", sublinha Kit Harington.

Embora já tenha tido vários papéis desde que se despediu da sua personagem mais emblemática (um dos heróis de "A Guerra dos Tronos", que viveu entre 2011 e 2019), o britânico aponta em "Industry" uma oportunidade especial. "Acho que ando à procura de coisas que tenham aquele toque ligeiramente cómico. E essa é uma razão pela qual 'Industry' era apelativa, porque o tem", diz sobre a série que o acolhe a partir desta segunda-feira como um dos protagonistas. Uma série que já acompanhava enquanto espectador atento, confessa.

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"Foi uma experiência nova para mim, chegar a algo de que era fã, que tinha visto, de que tinha gostado. Lembrei-me das pessoas que entraram em 'A Guerra dos Tronos' e que eram fãs da série e que estavam entusiasmadas por lá estarem", compara. "Senti-me assim quando entrei em 'Industry'. Mas não foi só por isso que aceitei o papel. Se não fosse a personagem certa para mim, não teria entrado só por entrar", realça.

"Um êxito de culto"

Estreada no final de 2020 e ambientada no mundo da alta finança partindo do escritório do banco internacional Pierpoint & Co, em Londres, o drama criado por Konrad Kay e Mickey Down tem sido um segredos mais bem guardados da Max. Apesar de a plataforma lhe ter dado o voto de confiança para uma terceira temporada (algo de que muitas séries de hoje não podem orgulhar-se), é um retrato intenso e sedutor da competitividade laboral que merecia mais atenção do grande público e até de alguma crítica (e dos prémios televisivos). A entrada em cena de uma estrela como Kit Harington pode finalmente abrir-lhe outras portas.

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O ator considera a aposta conjunta da HBO e da BBC One "um êxito de culto" e não lhe poupa elogios. "Espero que haja pessoas a ver esta série por causa da minha participação. Espero que vejam as duas primeiras temporadas antes de começarem a terceira. Não acho que seja absolutamente necessário, mas julgo que é aconselhável. As duas primeiras temporadas são muito boas e queremos conhecer todas estas personagens", nota, destacando uma faixa do público que o preocupa especialmente. "Já fiz algumas coisas que tive de vender aos meus amigos. Mas muitos dos meus amigos vêem esta série. Adoram-na. São grandes fãs e a sua principal preocupação é: 'Vais estragar-me isto? Tenho de te ver na minha série e isso destrói-a porque sou teu amigo'. Essa é a principal preocupação deles", brinca.

Além de Kit Harington, a terceira temporada de "Industry" apresenta muitas outras novas caras: Sarah Goldberg (Petra Koenig), Miriam Petche (Sweetpea Golightly), Andrew Cavill (Lord Norton), Roger Barclay (Otto Mostyn), Fady Elsayed (Ali El Mansour) e Fiona Button (Denise Oldroyd). E também traz de volta Myha’la (Harper Stern), Marisa Abela (Yasmin Kara-Hanani), Harry Lawtey (Robert Spearing), Ken Leung (Eric Tao) ou Sagar Radia (Rishi Ramdani). Se o ator britânico procurava afastar-se de "tipos solenes e heróicos", parece ter encontrado a série certa: nem as personagens iniciais nem as mais recentes estão perto de se encaixar nesse perfil. Henry Muck, herdeiro milionário e diretor-executivo de uma empresa de energia de tecnologia sustentável, não é exceção.

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Um passado reencontrado

"Gostei do Henry porque ele cumpriu tudo aquilo em que o Mickey e o Con são tão bons: criar uma personagem de que não sabemos se gostamos ou não, que está profundamente implicada mas que é, de certa forma, atraente e encantadora", descreve. "Com sorte, se eu tiver feito bem o meu trabalho, estranhamente, queremos que ele tenha sucesso, ao mesmo tempo que ficamos chocados com ele. E acho que isso é verdade para muitas personagens desta série."

O ator admite que até se sente relativamente próximo da figura que encarna. "Conheci muitos Henrys no meu tempo. Conheci muitos ou senti-me como se tivesse conhecido muitos. Talvez não exatamente ele nem tão difíceis ou perigosos como ele, mas do mesmo mundo, com o mesmo percurso. Achei que era uma pessoa muito, muito interessante para cair neste universo", conta.

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Em resposta ao SAPO Mag, Harington especifica em que medida se relaciona com a sua personagem: "Eu sou e não sou do mesmo meio que ele, de muitas maneiras diferentes. Não tive uma educação privada e não frequentei uma escola pública de elite, mas - vou dizê-lo porque está na Wikipédia - o meu pai é um baronete, por isso conheço esse mundo... mas não conheço esse mundo. Eu conhecia-o algures do meu passado. Ele está algures lá, por causa do tipo de pessoas que conheci. E ele não estava assim tão longe de mim em alguns aspetos".

O britânico salienta ainda dois nomes que foram decisivos para moldar Henry Muck: os criadores da série, que assumem também funções de argumentistas e produtores executivos. "Acho que guionistas como o Mickey e o Kon são inteligentes, pois vêem o que estás a fazer. Conhecem-te como pessoa e depois começam a fundir-te com a personagem, a acrescentar diálogos ou a mudar coisas. Eles pensam 'Oh, o Kit está a trazer isto para ele. E nós conhecemos o Kit desta forma. Bem, talvez possamos misturar um pouco disso", exemplifica. O resultado dessa experiência pode ser visto nos próximos oito episódios de "Industry", que chegarão nas próximas segundas-feiras à Max. E quem não viu os 16 anteriores, ainda vai bem a tempo de descobrir uma das séries mais intrigantes da plataforma.

TRAILER DA TERCEIRA TEMPORADA DE "INDUSTRY":