
Sofia Campos entrou para a direção da CNB exatamente há um ano, nomeada pelo Ministério da Cultura, depois de o coreógrafo Paulo Ribeiro se ter demitido de funções.
A diretora artística diz querer apostar muito na companhia nacional "como um museu vivo da História da Dança, e quer procurar um "equilíbrio ideal entre o clássico e o contemporâneo".
"O património coreográfico preocupa-me. A missão da companhia nacional é reavivar a memória deste recurso, falar dele e mostrá-lo, ao mesmo tempo incentivar também a criação", salientou, acrescentando que a programação mais regular, potenciar a ligação com o público, digressões nacionais e a internacionalização são outros eixos importantes.
"Não há nada como estar dentro da companhia para perceber as dificuldades e mais valias desta casa. Eu já era uma espetadora assídua e um agente cultural atento, mas aqui descobri outras dimensões", disse a responsável, que deixou em setembro de 2018 as funções de vogal do conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II.
Paulo Ribeiro entrou em novembro de 2016 e demitiu-se em julho de 2018, alegando razões pessoais, embora viesse a admitir, mais tarde, a vários media, falta de apoio financeiro e da tutela. O antigo diretor do extinto Ballet Gulbenkian, fundador da Companhia Paulo Ribeiro, e atual responsável da Casa da Dança, em Almada, sucedeu a Luísa Taveira, que, por seu turno, deixara a companhia para entrar como vogal no conselho de administração da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
Questionada sobre os pontos positivos e negativos da companhia, Sofia Campos disse que os profissionais da CNB "são pessoas muito dedicadas, que trabalham diariamente e evoluem, porque têm uma grande capacidade de fazer coisas tão diferentes".
"A CNB é uma companhia muito versátil, que salta do clássico para o contemporâneo facilmente, e essa flexibilidade é muito valiosa", disse à Lusa.
Sobre as dificuldades, "são as do dia a dia, que têm de ser agilizadas, enquanto o espaço é pouco central, em Lisboa, o que faz com que o público precise de saber que o trabalho é regular para visitarem o Teatro Camões".
A distância do centro de Lisboa, "não é só geográfica", disse a responsável, formada em Dança pela Escola Superior de Dança, em Gestão das Artes na Cultura e na Educação pela Escola Superior de Educação Jean Piaget, e detentora de um mestrado em Práticas Culturais para Municípios, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Defende a "necessidade de potenciar a ligação com o público, parte dele já regular, mas é preciso fortalecer e abrir mais as portas para as pessoas que não conhecem ou não vêm habitualmente".
"Quero incentivar esta proximidade e sentido de pertença", salientou, sobre os públicos, outro eixo que sublinhou ser muito importante na filosofia que quer aplicar no funcionamento da CNB.
Questionada sobre as mudanças que pretende fazer na companhia nacional, considera que "não podem ser radicais, mas graduais".
"A companhia precisa de uma grande estabilidade. Tem muitas questões por resolver, mas tem estado tudo a correr bem", avaliou.
Sobre o trabalho presente e futuro dos bailarinos da CNB, a diretora já concluiu que "não é possível ter um bailado clássico em permanência", no palco do Teatro Camões.
"Os clássicos são muito exigentes do ponto de vista dos meios e do físico dos bailarinos, e não temos uma equipa de dimensão que o possa comportar", disse, sobre os 69 bailarinos, cerca de 20 deles sem possibilidade, pela idade, de corresponder a esta exigência, "mas aptos para outros tipos de coreografias".
Sofia Campos quer cativar novos públicos e acredita que os há para o clássico, o moderno e o contemporâneo: "A nossa missão é fazer um pouco de tudo com o máximo de qualidade, dentro da realidade da companhia, das condições que temos".
"Na altura da crise económica no país, a CNB teve cortes orçamentais e ressentiu-se muito disso. Agora é preciso retomar o equilíbrio", defendeu.
Sobre a situação dos bailarinos com idade mais avançada, disse que estão a ser resolvidas pela tutela da cultura e pelo Organismo de Produção Artística (Opart), que tutela a companhia e o Teatro Nacional de São Carlos, "e parece estar tudo bem encaminhado".
"A reconversão dos bailarinos é sempre complexa e delicada, porque são carreiras muito exigentes, desgastantes e curtas", comentou, acrescentando que, no entanto, a casa tem projetos para os bailarinos mais velhos, que “é preciso tratar com toda a dignidade pelo que já deram à casa”.
Estes bailarinos "continuam a ir às aulas e têm coreografias próprias", disse a responsável, que foi diretora de produção e responsável de difusão na RE.AL, estrutura dirigida pelo coreógrafo João Fiadeiro, de 2003 a 2011.
Relativamente ao orçamento para esta temporada, a diretora disse que, para já não o podia revelar, mas adiantou que o apoio da Fundação EDP – um mecenas de há mais de 20 anos - continua garantido, no valor de 100 mil euros.
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