"Este testemunho vai registar para sempre a minha convicção, o meu abatimento e as minhas esperanças e constitui o meu legado", afirma "BB", nas suas mais recentes confissões.
"Nunca mais escreverei outros livros", garantiu Brigitte Bardot à AFP.
Na obra de quase 250 páginas, Brigitte Bardot evoca a sua infância, os seus anos no cinema e os seus amores, o afastamento da Sétima Arte em 1973 e o cancro da mama.
A estrela fala sobre "o sentido da sua luta" pelos animais e "pelo animal que sou".
"Não faço parte da espécie humana. Não quero fazer parte dela. Sinto diferente-me, quase anormal", diz a atriz que surgiu no grande ecrã em 1956, aos 22 anos, no filme "E Deus Criou a Mulher", de Roger Vadim.
A ex-atriz diz sempre ter sido sensível à causa dos animais.
"Desde criança já sabia, pressentia que era um animal", revelou, contando que foi o seu primeiro marido, Roger Vadim, que lhe abriu os olhos para as condições dos matadouros.
A sua mudança de vida radical deu-se em 1973, o que permitiu que se dedicasse totalmente ao seu "combate pioneiro" e, com frequência, incompreendido.
"A primeira parte da minha vida foi um rascunho da minha existência", reconhece, acrescentando que a segunda etapa trouxe "as respostas às questões que coloquei até então".
Percorrendo memórias, Brigitte Bardot relata a sua luta pelas crias de foca, a criação da sua fundação e denuncia a caça, os jardins zoológicos, a criação industrial, os casacos de peles ou ainda o consumo de carne de cavalo, o qual espera ver abolido "antes da (sua) morte".
A militante lembra ainda que os animais recolhidos por ela e abrigados na sua casa de La Madrague, em Saint-Tropez (sudeste de França) - onde se isolou há muitos anos e onde deseja ser enterrada -, são a sua "família mais próxima".
Bardot não se esquece os antigos amores, como Serge Gainsbourg, ou as amizades, como a escritora Marguerite Yourcenar.
A estrela também retoma polémicas criadas por ela, ao rejeitar, por exemplo, o laço com o filho, Nicolas, e ao abordar as suas propostas para a imigração no país.
A respeito do filho, garante que "a relação se normalizou".
Sobre as cinco condenações por incitação ao ódio racial, diz "nunca ter pedido a ninguém para ser racista".
"Não acho que alimente o ódio racial", desconversa, afirmando ser contra o degolamento praticado por judeus e muçulmanos.
Essas condenações tinham como alvo a população muçulmana, a qual - segundo ela - "nos destrói, destrói o nosso país impondo os seus atos", ou ainda, contra "clandestinos, ou essas pessoas que profanam e tomam as igrejas de assalto para as transformarem em chiqueiros humanos".
Bardot confessa ter medo da morte e ter encontrado refúgio na sua "relação pessoal com a Virgem Santa".
Após a sua morte, espera deixar a memória de uma mulher que pôs fim ao tabu da "humanidade animal, da animalidade humana" e insiste num "futuro comum" com todos os seres vivos.
"A minha passagem pela Terra não terá, então, sido em vão. E a minha alma ficará, enfim, em paz", conclui.
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