O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) arranca hoje, no Porto, para uma edição dedicada ao tema “Trauma e Bravura”, com 14 espetáculos do espaço iberoamericano entre estreias mundiais, nacionais e coproduções.
“O tema deste ano do FITEI é ‘Trauma e Bravura’. Vivemos tempos em que se têm acumulado traumas: a crise migratória, a pandemia [de covid-19] e a guerra. Mas também temos visto muitos exemplos de bravura. Não só a mãe que segura o filho enquanto atravessa o Mediterrâneo numa balsa, ou uma mãe solteira em Portugal desdobrada em três empregos para aguentar o barco”, explicou, em entrevista à Lusa, o diretor, Gonçalo Amorim.
Segundo Amorim, “é com esse mote que os artistas vêm este ano ao FITEI”, numa edição feita “com muito cuidado, só com 14 espetáculos, sete deles coproduções”, apresentadas sobretudo no Porto, mas também Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Viana do Castelo.
A 46.ª edição começa hoje com “#5 Bochizami”, apresentado no Teatro Municipal Rivoli, no Porto, levando a palco um espetáculo que Flávia Gusmão criou em torno da ativista cabo-verdiana Samira Pereira (1976-2021), sobre luto e memória, e apresentado também quinta-feira.
Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Iracema levam “Cosmos” ao Teatro Carlos Alberto, enquanto “Hamlet”, de Chela de Ferrari, coloca em palco no Teatro Nacional São João um grupo de pessoas com síndrome de Down que partem de Shakespeare para experiências pessoais.
O primeiro fim de semana recebe ainda um “minifestival dentro do festival”, adiantou Gonçalo Amorim, com a apresentação de quatro peças curtas, de 30 minutos, no âmbito do “Teatro Bombón Gesell”, um projeto argentino com parceria do FITEI que inclui espetáculos e conferências sobre violência e justiça na Ibero-américa.
De 19 a 21 de maio, Mario Vega apresenta “Moria”, sobre o campo de refugiados com o mesmo nome na ilha de Lesbos, primeiro no Porto e depois em Viana do Castelo.
“O Mario Vega propõe-nos uma instalação cenográfica que é uma tenda. O público entra para a tenda e tem uma perspetiva documental da vida em Lesbos, com projeções em 360 graus, e ouvem histórias verídicas de mulheres afegãs, sírias e iraquianas no acampamento”, descreveu o diretor artístico do festival.
Outro dos destaques internacionais, criado em Setúbal, é a estreia mundial de “Una isla”, do catalão Agrupación Señor Serrano, que tem antestreia sábado em território setubalense e segue depois para o Porto, a 18 e 19 de maio, com o teatro a conviver com vídeo, robótica e inteligência artificial em cena.
O espetáculo “Limbo”, de Victor Oliveira, recebeu o Prémio SPA para Melhor Espetáculo em 2022 e também passa pelo FITEI, como estreias de duas companhias portuenses, Visões Úteis (“Ibéria Sector 5”) e Plataforma UMA (“Piloto”).
Cristina Planas Leitão, com “O Sistema”, Nuno Nunes, com “Condomínio”, “Que não se fale dos velhos tempos”, de Grua Crua e Assédio Teatro, e “Se eu fosse Nina”, de Rita Calçada Bastos, engrossam as propostas nacionais, assim como “Subterrâneo, um musical obscuro”, que junta os portugueses Má-Criação aos brasileiros Foguetes Maravilha e Dimenti.
A programação inclui ainda propostas de música e projetos de fim de ano de várias escolas artísticas do Porto, com o 46.º FITEI a fechar no dia 21 de maio.
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