"Normalmente, a Ópera Nacional de Viena é um formigueiro, onde trabalham mil pessoas", afirma o diretor Dominique Meyer, que não esconde a emoção. "Agora o lugar está em silêncio e, emocionalmente, é muito difícil", completa.
Num período normal, Viena, cidade impregnada de recordações de Mozart, respira música. Os festivais acontecem em sequência e há sempre um concerto ou uma ópera para ouvir e admirar. Mas a temporada musical foi bruscamente interrompida no mês passado, quando as primeiras medidas de confinamento para travar a pandemia da COVID-19 forçaram o encerramento das salas de concerto das grandes instituições musicais.
"Viena oferece uma agenda cultural comparável a de uma cidade de cinco milhões de habitantes, quando tem apenas 1,8 milhões", afirma o diretor da Agência de Turismo, Norbert Kettner. "Isto é o que atrai 75% dos oito milhões de visitantes anuais", destaca, antes de recordar que o número de turistas aumentou 62% na última década.
A três óperas e duas salas de concerto reúnem quase dez mil pessoas todas as noites.
A cidade tem algo para todos os amantes de música e para todos os bolsos, com bilhetes a partir de 5 euros. Mas para conseguir entrar na lista da Orquestra Filarmônica de Viena há uma lista de espera de 14 anos.
Para a cidade das valsas felizes compostas pela dinastia musical dos Strauss, o freio brutal na indústria cultural representa uma catástrofe financeira sem precedentes desde 1945.
"A Ópera de Viena tem em geral uma bilheteria de 131 000 euros por dia", recorda Meyer. "É um pulmão económico vital que lota seis ou sete hotéis e os restaurantes da região após os espetáculos", explica.
Agora tudo está parado e os mais prejudicados são os próprios artistas. "Eu interpretaria Arabella (ópera de Richard Strauss) em maio, viajaria para Toronto, Istambul, Paris", comenta à AFP o tenor Michael Schade.
"Não vou cantar Schubert, 30 apresentações foram canceladas", afirma o barítono Florian Boesch. "As casas de espetáculo recorrem à cláusula de força maior e não recebemos nenhuma compensação", lamenta.
Um microssistema em colapso
Adiar produções líricas é impossível, já que são programadas com anos de antecedência. "Quando um projeto cai, todo um microssistema desaba", explica o diretor de ópera Benjamin Prins.
"Técnicos, designers de iluminação, cantores reservam seis meses das suas vidas para ensaios, mas agora estão parados nas suas casas sem um cêntimo, porque geralmente o pagamento só acontece na noite de estreia", completa.
Sem um sistema de seguros/ fundo de desemprego, o governo austríaco estabeleceu mecanismos de apoio que permitem que cada artista receba mil ou dois euros ao mês durante 16 semanas. Além disso, o setor continua dependente das decisões sobre a abertura das fronteiras.
A Áustria planeia começar na terça-feira o fim gradual da quarentena, mas a vida cultural não irá regressar de imediato: qualquer aglomeração pode provocar o regresso da epidemia.
De acordo com números oficiais, a COVID-19 provocou 337 mortes no país até domingo.
"Mesmo sem apresentações, continuamos a cantar", disse Boesch. "Nunca houve tanta música online, não podemos ser silenciados", completa, otimista.
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