O curador espanhol, que deixou Serralves em 2002 para assumir a direção do museu londrino Tate Modern (de onde saiu em 2010), olha para o trabalho que fez no Porto assim como de outras iniciativas na altura, no país, como uma pedra que é atirada ao mar e que vai criando “ondas”.
“Isso foi feito”, nota, considerando que outros lugares e espaços que foram surgindo nos últimos 20 anos atiraram “mais uma pedrinha e mais uma pedrinha”, criando mais ondas, a favor da evolução da arte contemporânea em Portugal, que espera que “não acabem”.
“Houve uma grande evolução, sobretudo, em termos institucionais”, disse à agência Lusa o curador, que esteve em Coimbra no âmbito da PARTE Summit, um encontro internacional que reuniu pensadores do meio artístico contemporâneo na cidade, no passado sábado.
Vicente Todolí dirige um dos circuitos artísticos, entre o Norte e o Centro, que antecede o encontro, que tem uma segunda fase em Loulé, já no início de agosto.
Para o antigo diretor de Serralves, o grande desafio em Portugal passa pela necessidade de continuidade e sustentabilidade dos projetos.
“O que torna os projetos fortes é a continuidade e a persistência e acabam depois por provocar um efeito-espelho”, constatou, considerando que só a sustentabilidade permite criar “uma paisagem e um legado”.
“Os espaços não podem ser como foguetes”, notou, destacando que há “cada vez mais gente envolvida”, sejam instituições públicas, privadas ou particulares.
Segundo Vicente Todolí, num país que não é rico, é muito importante que haja “grinta”, uma expressão italiana muito utilizada no ciclismo que remete para a "garra".
Se no arranque do século, o antigo diretor do Museu de Serralves tinha dificuldade em captar público, hoje acredita que a situação já não se coloca, rejeitando por completo a ideia de as artes plásticas estarem mais afastadas do público.
“Isso acabou. Agora a arte contemporânea é mais conhecida do que a arte clássica. O problema é que vão ver os artistas mais mediáticos e aí entramos na mercantilização”, notou.
Para Vicente Todolí, que não gosta do mundo da arte, mas da arte em si, “há cada vez mais mercantilização da arte”.
“O importante é manter a independência das instituições”, disse, apontando para casos de fundações que não dependem de receitas de bilheteira para compor o seu orçamento, como fundações associadas a grandes empresas ou instituições bancárias.
“A parte comercial é também aquela pela qual os jornalistas mais pegam - os preços, os mercados. Todo o mundo contribui para isso. Enfim, é assim”, disse, encolhendo os ombros, o atual diretor do Hangar Biccoca, da Fundação Pirelli, em Itália.
A PARTE Summit tem, neste mês e em agosto, a sua primeira edição, entre as cidades de Coimbra e Loulé, num encontro internacional com alguns dos “pensadores mais influentes no meio artístico” contemporâneo.
O seminário decorre desde 30 de julho, em Coimbra, até 6 de agosto, em Loulé, propondo “um novo formato de reflexão e partilha de conhecimento, que toma como ponto de partida 12 questões previamente formuladas por algumas das pensadoras e pensadores mais influentes no meio artístico, reunidos em Portugal a convite do programa PARTE”.
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