Nuria Enguita, que era até ao mês passado diretora do Instituto Valência de Arte Moderna (IVAM), em Valência, Espanha, cargo de que se demitiu, foi escolhida através de um concurso internacional e inicia funções em maio.

O MAC/CCB, em Lisboa, criado após a extinção da Fundação de Arte Moderna e Arte Contemporânea – Coleção Berardo, foi inaugurado em outubro do ano passado.

O júri do concurso optou pelo projeto apresentado por Nuria Enguita, “destacando não apenas a sua consistência e o seu sentido de oportunidade, para as quais é relevante a sua larga experiência curatorial e de direção de outras instituições, mas também o seu conhecimento da realidade portuguesa”.

“As qualidades de rigor historiográfico, competência museológica e visão abrangente e transversal do mundo da arte materializaram-se na proposta de trabalho apresentada, reforçando a ideia de ‘chão comum’ que vem sendo trabalhada no CCB”, lê-se no comunicado.

Núria Enguita irá desempenhar as funções de diretora artística do MAC/CCB por um período de quatro anos e irá dirigir uma equipa da qual fazem parte a curadora-chefe para as Artes Visuais, Rita Lougares, e a curadora-chefe para a Arquitetura, Mariana Pestana.

Ao concurso internacional para selecionar a nova direção artística do MAC/CCB responderam 39 candidatos, na sua maioria de fora de Portugal.

Nuria Enguita, que nasceu em 1967, foi diretora do IVAM entre 2020 e fevereiro deste ano, “onde estabeleceu um programa expositivo ao mais alto nível, partindo não apenas da coleção”, com exposições como "Arte en una tierra baldía (1939–1959)", mas também de apresentações temporárias, incluindo nomes como Anni e Josef Albers, Asger Jorn, Grupo Zero, Zanele Muholi, Teresa Lanceta, Anna Boghiguian, Otobong Nkanga, e jovens artistas do contexto local”.

A programação do IVAM anunciada para este ano, durante a direção de Nuria Enguita, prevê para os meses de maio a setembro, a exposição "O poder com que saltamos juntas. Mulheres artistas em Espanha e Portugal entre a ditadura e a democracia", em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian.

A Fundação CCB destaca ainda, no comunicado hoje divulgado, que durante a direção de Nuria Enguita do IVAM “foi desenvolvido o programa de estudos Articulacions, em colaboração com as duas universidades públicas de Valência, e os programas públicos adquiriram uma dimensão central no museu”.

De acordo com a agência espanhola EFE, Nuria Enguita demitiu-se do cargo de diretora daquele museu de Valência por alegadas irregularidades numa doação.

A curadora tinha sido nomeada para o cargo em 2020, por um júri do qual fazia parte o curador de arte Vicente Todolí, que dá nome à fundação Todolí Citrus, a maior fundação privada do mundo dedicada aos citrinos, à qual Nuria Enguita fez, em 2022, uma doação de terrenos com outras 25 pessoas.

O Governo da região de Valência, através do ministério da Cultura, dirigido por Vicente Barrera, do partido de extrema-direita Vox, informou o Ministério Público da doação, apresentando factos que considera poderem ser considerados “indicativos de um possível ilícito penal”, noticiou o jornal espanhol El Pais, em fevereiro.

Quando apresentou a renúncia ao cargo, Nuria Enguita fez saber que a doação de “dois terrenos rurais improdutivos” foi feita a uma fundação “sem fins lucrativos”, no âmbito de uma campanha de ‘crowdfunding’ na qual participaram mais de 25 pessoas, entre as quais artistas de renome como Maurizio Cattelan, Miroslaw Balka, Cristina Iglésias e Nan Goldi.

A curadora considerou tratar-se de uma “campanha difamatória” sobre “um tema estritamente da esfera privada”.

A Associação de Diretores de Arte Contemporânea de Espanha saiu em defesa do “rigor e profissionalismo” de Nuria Enguita, através de um comunicado divulgado na imprensa espanhola.

Antes do IVAM, Nuria Enguita foi diretora, entre 2015 e 2020, do Centro de Arte Bombas Gens, também em Valência, e entre 1998 e 2008 da Fundação Antoni Tàpies, em Barcelona.

Entre 2008 e 2015, como curadora independente, organizou exposições em instituições espanholas e portuguesas.

Nuria Enguita licenciou-se em História e Teoria da Arte pela Universidade Autónoma de Madrid, em 1990.

A Fundação CCB refere que, desde 1991, a prática institucional de Nuria Enguita “é definida pelo trabalho direto com coleções e com os contextos sociais em que estas são geradas e apresentadas”, e que “o seu trabalho procura tornar visíveis práticas artísticas habitualmente relegadas para as margens das histórias oficiais e da modernidade canónica”.